Diário As Beiras

“Duarte Silva não quis dar o lugar a Pereira Coelho”, diz Jaime Soares

Foto de Luís Carregã

O antigo líder da Distrital de Coimbra do PSD e atual presidente da assembleia da mesma estrutura revela aquilo que toda a gente sabia mas que ninguém admitia. “Houve quem deitasse areia na engrenagem porque queria ser candidato”, afirma Jaime Soares.

Vai candidatar-se à Distrital de Coimbra do PSD?

Acho que já cumpri a minha missão. Mas nunca me neguei a estar disponível para o meu partido. Porém, estou convencido que há pessoas que serão capazes de protagonizar, tão bem ou melhor do que eu, uma candidatura alternativa, e já estamos a tratar disso.

Com quem está a tratar do assunto?

Seria muito mau estar aqui a revelar nomes, mas posso dizer que há muitas pessoas com craveira política e intelectual prontas para avançar. Mas convém lembrar que Pedro Machado ainda não disse se vai ou não recandidatar-se.

Está tentar convencer Pedro Machado a recandidatar-se?

Acha que o dr. Pedro Machado se deixaria influenciar por quem quer que seja? Tem uma vida muito ativa, que se divide por várias funções. Contudo, acredito que tem um futuro político à sua frente muito importante, com outro tipo de responsabilidades, e essas, sim, poderão leva-lo a que não tenha disponibilidade para exercer todos os cargos que atualmente exerce, incluindo o de presidente da Distrital do PSD.

Há quem impute a derrota do PSD nas autárquicas a Pedro Machado…

Isso é das mentiras mais incríveis que se possam imaginar! Muitas das questões relacionadas com as autárquicas passaram-se quando eu era presidente da distrital. Em relação à Figueira da Foz, por exemplo, todos sabemos os problemas que houve na câmara (no segundo mandato)…

O que é que fez, como presidente da distrital, para resolver esses problemas, que acabaram por contagiar o processo eleitoral para a concelhia?

Tudo o que me era possível fazer. Juntei os protagonistas e tentei resolver os problemas. Ouvi-os, durante horas, nomeadamente, o presidente da câmara (Duarte Silva) e o vice-presidente (Paulo Pereira Coelho).

Mas não evitou que o secretário-geral do partido, Ribau Esteves, viesse à Figueira para tentar pôr cobro ao conflito…

Mas foi pior a emenda que o soneto: por pouco não chegaram a vias de facto… Eu estive nessa reunião, que tinha uma estratégia previamente negociada, que passava por, um ano ou um ano e meio antes do fim do mandato, Duarte Silva sair e Paulo Pereira Coelho assumir a presidência.

Quem é que não cumpriu esse compromisso?

Não o cumpriu quem não saiu. Não se apercebendo, Duarte Silva deixou-se envolver numa teia da qual já não conseguia sair.

A dada altura, já não tinha condições para ser recandidato, mas a direção nacional do partido decidiu recandidatar todos os autarcas que reunissem determinadas condições.

Mas também foram criadas muitas dificuldades, porque havia pessoas que queriam ser candidatos. Alguns deles, quando se aperceberam que não tinham essa possibilidade, começaram a meter areia na engrenagem.

Quem eram essas pessoas?

Não estavam fora da vereação.

Acha que José Elísio e Teresa Machado queriam ser candidatos?

Não.

Então, restavam Lídio Lopes e Paulo Pereira Coelho, além de Duarte Silva…

Sim, mas não vamos por exclusão de partes. Cada um que retire as suas ilações. (…) Estava convencido que o acordo de cavalheiros ia ser cumprido, mas houve quem quisesse pôr areia na engrenagem.

Mas sabia que alguns dos vereadores não queriam que Duarte Silva fosse substituído por Paulo Pereira Coelho.

Sim, mas isso pouco importava se Duarte Silva fosse fechado a esse tipo de pressões. A chave do processo estava na mão de Duarte Silva.

E que aconteceu? Perdeu a chave ou não encontrou a fechadura?

Acho que foi as duas coisas, e os resultados são os que se conhecem.

Regressando às últimas autárquicas, não admite que o PSD as perdeu para o PS, no distrito de Coimbra?

Perdeu. Aconteceu em Oliveira do Hospital o mesmo que aconteceu na Figueira, ou seja, as mesmas guerrilhas internas. Só tivemos um problema, em Penacova, porque há líderes de pés de barro que acham que o povo está de olhos fechados.

Já decidiu o que vai fazer quando se reformar da vida autárquica (não pode recandidatar-se à Câmara de Poiares nas próximas eleições)?

Eu sei fazer muitas outras coisas, por isso, não estou preocupado. Mas tenho a certeza que será um choque muito grande: não é de ânimo leve que se enfrenta uma nova situação, depois de estar 39 anos à frente dos destinos de um município.

Vai escrever um livro de memórias, gostava de voltar a ser deputado ou vai candidatar-se a outra autarquia?

Já me incentivaram a escrever um livro. Não posso dizer que não gostava de voltar a ser deputado, mas essas coisas tornam-se muito difíceis, pela clientela que há no PSD. A possibilidade de me candidatar a outra câmara não se coloca. Mas há bons autarcas do PSD que não se podem recandidatar nos seus concelhos e que podem vir a fazer um bom trabalho noutras câmaras vizinhas. Por exemplo, Luís Leal, de Montemor.

Está a lançar a candidatura de Luís Leal à Câmara da Figueira?

Veria com bons olhos a candidatura de Luís Leal à Câmara da Figueira.