Opinião: Vamos a votos

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Ora aí está: na próxima semana estaremos a correr para a nossa mesa de voto e a proceder ao ato de cidadania que o 25 de abril de 1974 nos permitiu. Apesar das elevadas taxas de abstenção que temos visto nas últimas eleições, também isso é um legado da data histórica que está quase, quase a fazer cinquenta anos e que nos possibilita escolher ir ou não ir votar. Mas a primeira opção deve ser a regra, claro.
Convenhamos que diversos partidos políticos democráticos não fizeram as melhores escolhas nas sua listas para candidatos a deputados, o que poderá dar razão à tese de que cada vez há mais dificuldade em escolher gente com qualidade política e profissional que queira assumir responsabilidades num país onde servir a comunidade é um verdadeiro risco pessoal e familiar.
Mais do que isso, a luta política está a parecer um ringue de disputas onde vale tudo para, acotovelando os adversários, se poder chegar a um suposto “invejável” patamar que assegure alguma fama e algum proveito.
As recentes lutas dos polícias, independentemente da sua justeza ou não, são um exemplo evidente da incapacidade de analisar em cada momento o que mais e melhor serve um grupo profissional para atingir os objetivos a que se dispôs.
E se é verdade que a escolha dos momentos de parar ou de avançar reflete a capacidade de análise sobre o momento, as expectativas que se têm ou as metas que se pretendem atingir, a fraude e os enganos a que se quer conduzir os cidadãos são hoje um perigo para a democracia e para as populações.
Li na revista Visão de 22/2 que um dos partidos concorrentes tem uma cartilha de notícias falsas que espalha através das redes sociais e da comunicação escrita e falada e que funcionam como estratégia política.
Ainda de acordo com a mesma revista, dois conhecedores do facto um dos quais é candidato a deputado pelo círculo de Coimbra por esse partido “levantaram a possibilidade de estar a ser preparada uma fraude eleitoral” que é “uma narrativa próxima da que foi utilizada pelos movimentos da direita radical populista nos Estados Unidos da América e no Brasil”.
Estamos, pois conversados. Ainda segundo a Visão, o líder desse partido domina toda a fraude e dezenas ou centenas de simpatizantes vão espalhando as mentiras por todos os meios que tiverem ao seu alcance.
Combater a fraude e a mentira precisa de começar na Escola, onde parece haver medo de assumir que esta não serve apenas para ensinar as disciplinas curriculares, mas também para explicar que a democracia, o respeito pelos outros, a inclusão, os direitos que advêm da igualdade precisam cada vez mais de ser assumidos e respeitados nos tempos que correm.
Perceber a História moderna, saber fugir às armadilhas que nos estendem a cada passo, dizer não aos ditadores que nos vão aparecendo em maior número do que o desejamos ou a sonhadores capazes de sacrificaram todo um povo em nome de uma utopia que alguém lhes vendeu, é uma função da Escola, um dever dos professores, uma exigência das sociedades democráticas.
Respiguei do programa de um dos partidos que concorre às eleições a pretensão alterar os curricula reduzindo o número de professores, gastando nesta área menos dinheiro, definindo o ensino como um encargo de que é preciso que nos libertemos.
Só quero recordar que tivemos um ministro da Educação (Eusébio Tamagnini), nos anos trinta, que desejando diminuir os custos da educação e baixar as taxas de analfabetismo defendeu que o país estava perante os seguintes grupos de crianças: ineducáveis ( 8%), normais estúpidos ( 15%), inteligentes médios ( 60%), , inteligentes superiores ( 15%) e notáveis ( 2%).
Pondo já na prateleira os ineducáveis e não fazendo grandes esforços com os três grupos seguintes, restavam os notáveis a quem deveria ser dada atenção. Assim se poupava muito dinheiro ao Estado; provavelmente é isso que o partido da redução de professores pretende fazer nos tempos que correm para gastar em notícias falsas e em combate à democracia.
Do que li, a Educação não é prioritária nesta pugna eleitoral, vá-se lá saber porquê, e só um partido assume que é preciso alguma medida de fundo, implicando mexer na Lei de Bases do Sistema Educativo. Quanto ao mais, de Educação estamos conversados.
Mas vamos a votos, que a democracia assim nos solicita. Votem bem!

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