Opinião: WebSummit 2023: a expectativA.I e a realidadA.I.

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O pano fechou-se no placo da WebSummit 2023. Nestas últimas 3 semanas o mundo continuou a rodar, particularmente frenético na política portuguesa, mas julgo ser ainda relevante olhar para o que passou e mais do que fazer um balanço, procurar a diferença entre as expectativas e a realidade:
Expectativa: O impacto negativo do politicamente (in)correto.
Na antecâmara do evento, um tweet do fundador Paddy Cosgrave sobre os crimes de guerra na Palestina, gerou um tsunami de notícias negativas: começou com um bloqueio israelita, levou à desistência de patrocinadores e à ausência dos gigantes multinacionais Google, Amazom, Meta ou Siemens.
Os receios sobre a segurança e sobre a própria realização futura do evento cresceram à velocidade voraz dos social media. As autoridades portuguesas ficaram envoltas num silêncio ensurdecedor, encurraladas entre o apoio ao evento, a crise interna e a defesa de Israel (um estado aliado onde alguns cidadãos com passaporte nacional estavam reféns do Hamas). A poucos dias do arranque, a demissão de Paddy acalmou os ânimos, mas não parou a discussão sobre a liberdade de expressão, sobre a posição dúbia dos gigantes tecnológicos e sobre o apoio futuro de Portugal ao que “restaria” da WebSummit.
Realidade: O sol brilhou, mas as nuvens pairam no horizonte
Segundo a organização, os números excederam as previsões:
70.236 participantes de 153 países
2.608 startups
O sol lisboeta brindou a multidão no arranque e sentiu-se um suspiro de alívio coletivo entre os mais de 300 parceiros. Esta afluência e o impacto gerado, provam que este evento é único em escala e dimensão internacional. A oportunidade de receber em Portugal um conjunto tão representativo de empreendedores e principalmente investidores, tem valor para o ecossistema de inovação português. Sou um participante assíduo do evento desde a primeira edição em solo nacional em 2016, e apoiante confesso de um modelo que maximize o impacto das empresas/instituições portuguesas, como foi o caso da presença do IPN durante a edição deste ano.
Na realidade as ausências foram notadas, mas a ausência do “ruído” que por vezes os stands das grandes tecnológicas geravam, permitiu que os holofotes se focassem mais nas verdadeiras estrelas: as startups! Elas são razão de ser, o “ethos” e a energia da WebSummit devem-se à sua presença, à curiosidade que despertam e as inovações que propõem. São a força e o pulso do que se passa naqueles dias e este ano não faltaram destaques:
Do IPN e do ecossistema de Coimbra o contingente foi de peso: Azulfy, buildtoo, Connected, eikko, Ethiack, Exo, Field, Flowbotic, Framedrop.gg, Freeasy, Grama, Imaginary Cloud, JSIO, Linkare , LocalFy, Mobiweb, Portugal Green Travel, Radosys Atlantic, Sharkcoders, Sizebay, Spotlite, Stokedge, ViBo Health, VirtuaCrop, Visible Sports, YDigital Media e YouShip.
A participação, mas também os prémios são um catalista importante para estas empresas como foi o caso da KUBO Robotics (vencedor da competição de pitch em 2016 ) ou a Inspira, vencedora deste anor. Tenho de destacar o prémio de startup mais promissora do Road2WebSummit 2023 (dentre 115 participantes) atribuído à Ethiack.
O evento é composto por muitas “camadas”, com vários palcos e discussões em torno da AI machine learning, eficiência energética e a nova economia espacial.. Nunca antes deste ano vi tantos países investindo como o foco de atrair investimento e talento para as suas regiões: Alemanha, Itália, Brasil, Bulgária, Estónia, Letónia, Espanha (Andaluzia e Catalunha), Itália, Reino Unido, Qatar, Dubai, Malta, Holanda, Porto Rico, Roménia, Ucrânia, Lituânia, Tunísia, Canadá (Toronto e Montreal), Japão, Polónia, França (La French Tech), Chile, Geórgia, Hong Kong, Singapura, Turquia, Cabo Verde (excelente trabalho de Pedro Lopes).
É difícil dizer quem se destacou, mas entre os palestrantes Daniela Braga, PhD, a nova CEO Katherine Maher e Brittany Kaiser (denunciante da Cambridge Analytica) são os meus destaques. Mais do que respostas, levantaram questões em torno dos limites da A.I. e do impacto na nossa liberdade e na estrutura social.
A falta de consenso sobre a regulação, a cibersegurança e a credibilidade dos dados (como se viu com o caso do D.J. Marshmellow), foram os temas que lançam dúvidas e questões no horizonte. Com um mundo em convulsão, indeciso sobre o caminho para a sustentabilidade ambiental/climática e com lideranças políticas hesitantes, que papel representará a tecnologia no nosso futuro coletivo? Saí da WebSummit com muitas estas e outras perguntas por responder, mas esperançoso no papel transformador dos empreendedores.

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