Arremessar bolas de tinta a ministros ou latas de sopa a quadros do Van Gogh ajudarão a resolver o tema das alterações climáticas? Não! Obviamente que não, mas ajudam sem dúvida a dar visibilidade pública ao tema. E a visibilidade alcançada traz consigo o apoio e a mobilização da opinião pública em geral e acelera ou muda o processo de decisão política? Não, não creio!
Em suma, ainda que os fins sejam relevantes – e neste caso indubitavelmente são-no! – podemos divergir na eficácia dos meios usados. Até porque existem já outros exemplos protagonizados pela mesma geração com maior alcance!
Entre 2018 e 2023, a jovem Greta Thunberg fez greve as aulas por 251 sextas-feiras para chamar a atenção da opinião publica e dos decisores políticos para as alterações climáticas. Apresentando-se, inicialmente só e depois acompanhada, com um simples cartaz em frente ao parlamento sueco conseguiu mobilizar milhões de outros jovens por esse mundo fora. Nasceu assim o movimento “Sextas-feiras pelo Futuro”. Foi convidada para discursar nas Nações Unidas, em diversos parlamentos, conferências e festivais, e até nomeada para o Nobel da Paz.
A história esta cheia de casos de desobediência civil em que movimentos de forma consciente e voluntária protestam não acatando determinadas regras e ordens de autoridades públicas por considerarem as mesmas ilegítimas. Em alguns casos, sobretudo nos mais pacíficos, houve resultados concretos positivos: a luta de Martin Luther King pelos direitos civis dos negros ou a independência da Índia liderada por Gandhi.
O combate às alterações climáticas apresenta-se como um fator extraordinário de mobilização social, sobretudo por entre os mais jovens, e isso é muito relevante num tempo de indiferença, individualismo e anemia social crescentes. Realmente não temos mais tempo a perder, porém também será verdade que o alerta está dado e que, agora, é tempo de concretizar medidas. Ora, será exatamente aí que “a porca torce o rabo”: velocidades e níveis de compromisso diferentes entre países e dentro de cada país entre setores de atividade.
Seria exatamente aqui – não tanto no alerta ou na chamada de atenção – que os mais jovens poderiam dar o exemplo, mobilizando-se em torno de ações concretas que comprovem o poder de executar medidas de mitigação ambiental. Colocar maior enfâse nos fins que nos meios – e com ações concretas – parecer-me-ia uma forma mais eficaz de luta e compromisso cívico!
Alguns chamar-me-ão conservador na abordagem. Eu prefiro considerar-me um pragmático de esquerda. Sou o mesmo tipo que há quase 30 anos ( 1994! ), quando me manifestava contra a PGA (Prova Geral de Acesso) discordei dos rabos ao léu, que em bom rigor em nada ajudaram a demover a então ministra da Educação Ferreira Leite, mas que definitivamente contribuíram para que a minha geração ficasse até hoje conhecida por “rasca”!