A entrada no ensino superior é por estes dias celebrada por milhares de jovens e pelas suas famílias, devido aos seus múltiplos e importantes significados: trata-se do coroar de toda uma trajetória de estudo e de trabalho, dos próprios e da comunidade, para lograr aceder à formação superior almejada. Essa formação, conforme é sabido e percecionado por todos, continua a ser um passaporte para uma vida melhor (embora não seja já uma passadeira vermelha). O início dos estudos superiores representa ainda para muitos a primeira fase de uma vida adulta, autónoma e responsável.
A própria comunidade reconhece a importância coletiva deste tipo de formação, nas suas múltiplas declinações: desde logo, para aqueles que o logram alcançar (e muito há a fazer ainda a esse respeito), o ensino superior funciona como uma forte ferramenta de luta contra as desigualdades sociais, o que justifica até que a comunidade entenda, no consenso social mais profundo representado na Constituição, que este deva ser tendencialmente gratuito para os utilizadores. Além disso, sendo o ensino superior aquele que está associado, mais do que à transmissão de conhecimento, antes à produção de conhecimento/investigação científica, tem um sem-número de consequências secundárias de que todos beneficiam: desde a transmissão de uma atitude crítica face à informação (indispensável, a todos os níveis, em democracia) às mil-e-uma consequências económicas associadas à inovação científica e tecnológica. Este último ponto tem um impacto tão grande que muitas pessoas de grande responsabilidade, mas de vistas porventura demasiado curtas, chegam a confundi-lo com o próprio objetivo das universidades.
Assim, a grande oportunidade que o ensino superior representa vem necessariamente associada a uma não menor responsabilidade. Antes de mais, dos próprios, que não podem desbaratar o imenso privilégio e investimento que a comunidade lhes concede. Também das instituições e docentes, a quem compete criar mecanismos para que o percurso escolar de todos os jovens empenhados que aceitam seja o de máximo sucesso, independentemente de noções, frequentemente anacrónicas e desajustadas, sobre qual deva ser a formação e conhecimentos dos jovens à entrada do ensino superior. Finalmente, da comunidade como um todo, a quem convém lembrar que um ensino superior de uma democracia desenvolvida como é, felizmente, a portuguesa, requer o investimento correspondente (estando o retorno assegurado), não sendo compatível com o atual subfinanciamento crónico.
De facto, conforme lembrava recentemente o Papa Francisco no encontro com jovens universitários, no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude : “Se o conhecimento não for acolhido como uma responsabilidade, torna-se estéril. Se quem recebeu um ensino superior – que hoje, em Portugal e no mundo, continua a ser um privilégio –, não se esforça por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu profundamente o que lhe foi oferecido.”