Eu cheguei a esta idade com muitos dias passados em camas do hospital”, desabafa Marília Campines Rato, residente em Antuzede, Coimbra, na mesma casa onde nasceu e viveu até hoje – 23 de setembro – data em que completou 100 anos.
A sua história de vida desmente a ideia de que as pessoas de maior longevidade têm poucas doenças. No seu caso, conta vários internamentos e algumas intervenções cirúrgicas, incluindo a remoção da vesícula e do útero, mas também uma pneumopatia e diversas quedas: “Lembro-me de ter caído duas ou três vezes na escola, aqui em casa e até na igreja”, recorda Marília, sentada na sua poltrona, na casa que partilha com a filha.
Ainda hoje se queixa “de não ter firmeza nas pernas”, mas isso não a inibe de sair porta fora de canadiana na mão, descer a dezena de degraus que separam a casa do portão da rua, e ir dar um passeio, às vezes sozinha, sem avisar.
Trabalhou no arroz do Baixo Mondego, nas hortas, foi “contínua” na escola e deu formação de catequese às crianças.
Recorda uma dezena de datas dos momentos mais importantes da sua vida, como o 14 de novembro de 1948, quando casou com António Carvalho, que viria a ser pai dos seus três filhos (agora com 62, 67 e 69 anos), mas que faleceu num acidente de motorizada a 17 de junho de 1986, com 66 anos de idade.
Marília responde “nem se pergunta” quando questionada sobre se recorda com saudade o seu companheiro: todos os dias. “Namorei com ele cinco anos antes de casar. Fomos muitos felizes, com as nossas zanguitas. Nessa altura dizia que não aquecia o meu canto da cama, mas quando eu me ia deitar, lá estava, e que era quando se desviava para o canto dele”.