Jejuar é tão importante quanto comer. Dar descanso ao estômago permite sentir o apetite de uma outra maneira, pois que a fome é o melhor tempero e, acrescento, dá ânimo à refeição. E é, também, higiénico e saudável. Os órgãos do aparelho digestivo recebem uma folga na constante pressão de terem de processar o que comemos em quantidade suficiente ou em excesso. Por isso, a maioria das religiões incluíram o jejum nos seus hábitos e práticas ritualizadas. Higienizar o corpo e a mente. Purificar. Dar leveza à função digestiva aproveitando para ver nesses resíduos a imoralidade que é necessário eliminar.
Por isso, o jejum é uma salutar prática de vida. Sentirmos a falta para depois sentir o sabor, apreciarmos a boca cheia porque soubemos o que era a boca vazia e seca. Não teremos inventado nada ao dizermos que faz bem jejuar. Essa regra é milenar e tão antiga quanto a abundância alimentar. Já a nossa ideia acerca dela é que é mais reduzida.
Atualmente, olhamos o jejum como uma tendência que, dizem, fazer bem à saúde e ajudar a emagrecer. Certo. Mas, pensar sobre o assunto pode ser útil. Até porque vê-se muita gente a seguir a prática de jejuar na convicção de que trará a resolução para os quilos a mais, não lembrando que o que se sabe sobre o assunto é o ruído das redes sociais e das conversas entre amigos. Que o jejum faz bem, ninguém tem dúvida, pergunto apenas se será mesmo como se apregoa. Há uma década, o segredo para uma alimentação saudável e equilibrada estava no tomar um bom pequeno-almoço, aquilo que os nossos antigos chamavam de almoço. Refeição bem composta que pudesse nutrir a nossa necessidade física de energia e permitir o foco e a atenção para as diversas atividades a realizar. Comer bem ao pequeno-almoço e não deixar o estômago cair na solidão para que, depois, o apetite não fosse devorador, era a regra. Hoje, tal visão ganhou espaço na estante das ideias mortas.
Mudar de estratégia não tem de ser mau. Evoluir muito menos. Temos é de ter a certeza de que mudanças queremos e como as seguimos. Temos de pensar como comemos. Não apregoar como prática uma verdade que pode não ser válida para todos. Incluir, na nossa vida, a interrogação, a questão que, não nos traz a verdade, mas dá-nos um vislumbre de uma escolha mais esclarecida.
Sempre jejuámos. Não tínhamos era consciência de que o fazíamos. Por isso, vamos fazer silêncio ao ruído social e escolher melhor, com jejum ou sem jejum.