Opinião: G7 em Hiroxima

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Relatei aqui, em setembro do ano passado, a minha visita a Hiroxima. Já lá tinha ido a título privado, podendo testemunhar o peso singular que esta cidade ocupa na História Universal. Juntamente com o bombardeamento atómico de Nagasáqui, precipitou-se ali, em agosto de 1945, o fim da segunda guerra mundial. Imagem idêntica terão os líderes do G7, que no passado fim-de-semana se encontraram em Hiroxima, para a cimeira anual.
Do Parque Memorial, onde depositaram coroas de flores, à ilha de Itsukushima, património mundial da UNESCO, assistimos a um dos principais fóruns de discussão da governança global. Para além dos líderes das 7 maiores economias, também estiveram presentes Lula da Silva, Presidente do Brasil, e Narendra Modi, Primeiro-Ministro indiano.
Talvez poucas cimeiras do Grupo até hoje tenham sido tão emblemáticas e imbuídas do espírito de unidade que, quase 78 anos depois, liga os vencedores da Segunda Guerra Mundial aos vencidos; em que os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e o Canadá se sentam à mesa com a Alemanha e o Japão na defesa da ordem internacional que o fim daquela guerra gerou. Ordem que Portugal integra, de que é acérrimo defensor, e que está, caros leitores, hoje à prova.
Seria tudo isto já claro para qualquer observador da cimeira quando aterrou em Hiroxima, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para dar à reunião, e ao ambiente no arquipélago, uma carga ainda mais forte. Esta visita constituiu uma lembrança viva daquilo que o G7 pretende e promete defender. Anunciada a surpresa, embora certamente preparada com semanas de antecedência, importa dedicar umas curtas palavras a esta visita.
Mais do que um convite meramente simbólico, não deixa de ser interessante apontar como os japoneses sinalizam a mensagem de que, na extensão da Eurásia, não há conflitos isolados, nem problemas circunscritos. À luz das tensões no Indo-Pacífico, região prioritária para o Japão, chamar o líder de um país em guerra nos confins dessa extensão é, mais do que uma peculiaridade, uma leitura da natureza geopolítica que os japoneses fazem do espaço euro-asiático.
Para Portugal, que se encontra no outro extremo geográfico, talvez fosse importante refletir sobre esta análise nipónica. Virando o espelho ao contrário, também podemos afirmar que os eventos no Indo-Pacífico nos dizem diretamente respeito, urgindo dedicarmos maior atenção e recursos para uma ação diplomática integrada e abrangente para toda esta região.

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