A partir do dia 20 de Abril de 2023, a União Europeia transformou-se na primeira grande jurisdição mundial a votar e caminhar para a adoção de um Regulamento sobre Criptoativos ( MiCA – Market in Cripto Assets ). A tentativa de regulação de um setor extremamente dinâmico, e que lança as bases de confiança e segurança jurídica para a futura Criptoeconomia é reveladora de dois tipos de sentimento : 1 ) coragem para enfrentar uma sociedade e um sistema monetário e financeiro fiduciário centenário, e 2 ) capacidade para assumir riscos elevados, ao positivar áreas de forte pendor disruptivo em setores de “Deep Knowledge” ou de conhecimento profundo.
Não podemos esquecer que as infraestruturas Blockchain e o seu protocolo mais representativo, o Bitcoin, ainda há meia dúzia de anos eram considerados, errada e precipitadamente, um território exclusivo de atividades para lavagem de dinheiro, branqueamento de capitais ou financiamento de terrorismo, além de outras atividades clássicas em domínios como a corrupção e o controlo de bens e capitais de origem mais ou menos duvidosa.
A intensa atividade legislativa e regulamentar deverá tendencialmente complexificar-se, numa altura em que a inteligência artificial entra nas dinâmicas de funcionamento dos mercados tradicionais e da Criptoeconomia, instituições, empresas e nos quotidianos das pessoas. Efetivamente, os ritmos de difusão das tecnologias da inteligência, atingem níveis totalmente inesperados provocando reações contraditórias em vários setores da sociedade.
O contraditório é bom e saudável até, desde que no final se consiga um plano de realização civilizacional capaz de diminuir o sofrimento das pessoas, elevar a sua prosperidade e aumentar o nível de compreensão sobre os universos e “metaversos” emergentes.
Com o aparecimento da ferramenta de inteligência assistida “ChatGPT”, o mundo entrou em contacto com uma espécie de “inteligência alien” de origem humano-algoritmica. Quatro meses depois, início de Abril, emergem as primeiras entidades de inteligência autónoma capazes de executar uma vontade, cujos exemplos como o “AutoGPT”, “AgentGPT” ou o “BabyAGI”, são sinais de aproximação a uma Superinteligência e a uma era de Singularidade Tecnológica mais rápida do que inicialmente se previa, 2029 para Ray Kurzweil, futurista e engenheiro de inovação na Google.
Se é cedo para avaliar os efeitos causados pelo pioneirismo jurídico, legal e regulamentar da União Europeia, já é tarde para a compreensão dos conceitos capazes de manter a inteligência, a senciência e a consciência, no cerne de uma civilização que tem de pensar, sentir e operar em diferentes dimensões de interface com entidades, “consciências algorítmicas”, dotadas de inteligência automática e autónoma.
Num mundo de dados pluripotenciais reais, simulados e sintéticos, poderá e deverá promover-se a «credibilidade algoritmica» como um ativo abundante mas, sem hipotecar a autenticidade e o compromisso humano com a «verdade» ( sem aspas) , um bem cada vez mais escasso e, por isso, de maior valor social e civilizacional.