Opinião: No Reino das Bananas

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No passado sábado, ao cair da noite, a vida começou a andar para trás para dois irmãos comerciantes da Madeira no regresso a casa após um longo dia trabalho, em Joanesburgo. Os ponteiros do relógio marcavam 18h00 à saída do talho, num bairro paupérrimo da capital económica sul-africana, e quando chegaram ao fim da avenida, no acesso à via rápida, o relógio deixou de marcar.
A viatura foi repentinamente emboscada, à mão armada, e de imediato sequestrados. As primeiras informações sacudiram a nossa comunidade emigrante. Alguns dias depois, várias fontes locais com quem falei, incluindo na segurança sul-africana, confirmaram o incidente. Ao que tudo indica, segundo as mesmas fontes, trata-se de uma tentativa de extorsão multimilionária, desconhecendo-se até à data o paradeiro dos dois compatriotas lusos.
O sequestro coincide com o agravamento do estado de alerta para “máximo”, devido a uma “paralisação total” da economia mais desenvolvida do continente na próxima segunda-feira, anunciada pelo partido político de extrema-esquerda Economic Freedom Fighters (EFF), na oposição, que colocou o exército em “prontidão”.
Com mais de uma centena de raptos reportados pela polícia, Joanesburgo é a capital do crime na província sul-africana de Gauteng, que registou no final do ano passado um aumento significativo neste tipo de crime, na ordem de 59,1%, segundo o governo sul-africano.
Na quinta-feira, uma jovem profissional de saúde foi raptada na cidade sul-africana de Gqeberha (antiga Port Elizabeth), na costa sudeste do país, tendo a polícia confirmado a detenção de duas pessoas, e um pedido de resgate de 2 milhões de rands (cerca de 104 mil euros) para a sua libertação.
Segundo analistas de segurança, esta “onda” de raptos terá começado no vizinho país lusófono, Moçambique, no seio da comunidade islâmica com fortes ligações familiares e empresariais na África do Sul, como forma de branqueamento de capitais ilícitos.
Até agora, o alvo era a comunidade asiática islâmica na África do Sul onde as redes criminosas com ligações ao país vizinho conseguem extorquir entre 6.000 rands ( 310 euros) a 40 milhões de rands ( 2,5 milhões de euros), dependendo do alvo, e do seu nível de organização, militarização e influência que têm junto da polícia, procuradores e juízes. Os fluxos financeiros ilícitos destas redes criminosas, que demonstram capacidade para se expandirem para a Europa, contaminam já setores como a banca, automóvel, imobiliário e o da mineração.

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