Opinião: Humanos e alienígenas

Posted by
Spread the love

Em tempos de guerra e catástrofe, logo aparecem as grandes teorias e crenças, cultivadas em círculos restritos, que tendem a ultrapassar a realidade ou a chamar até si as pessoas que entretanto morreram. Nós, humanos, somos dos poucos animais que sabem que vão morrer, mas não aceitamos este facto. Foi por isso que sempre nos apropriámos de uma alma imortal. Mas quando partem os nossos próximos, procuramos por todos os meios que eles venham à nossa presença. Conseguimo-lo por vezes nos sonhos. Mas nem isso nos chega. Procuramos a sua presença mais assídua, com a possibilidade de falarmos com eles e lhes perguntarmos como estão.
Foi essa necessidade que estimulou o culto do espiritismo, que se desenvolveu a partir do Século XIX depois dos livros de Allan Kadec. Ele explodiu durante as guerras nos Estados Unidos e na Europa. A presença dos espíritos era assegurada por um conjunto de recursos, mas principalmente por intermédio de “médiuns”, pessoas fragilizadas que assumiam a personalidade das almas do além. Faziam-no através de procedimentos, hoje razoavelmente conhecidos, que implicam alterações fisiológicas e cerebrais. São os mesmos procedimentos que Mesmer utilizava com as suas “histéricas” e ainda hoje utilizados em certas igrejas evangélicas que expõem as suas “endemoinhadas” e “milagradas”. A existência de patologia e o seu aproveitamento estão mal delimitadas em diversos contextos.
Estamos hoje de novo em tempos de catástrofe e de guerra. Os tempos mudaram entretanto, e as incarnações dos espíritos deixaram de existir em círculos fechados. As práticas mesmerianas evoluíram para as várias formas de hipnose que são abundantemente ensinadas e demonstradas na Internet e em cursos diversos que vão da hipnose clínica até ao “coaching”. É difícil fugir a alguma destas influências e, qualquer pessoa que passe por um psiquiatra ou psicólogo, já foi submetida a alguma destas experiências, tal como antes frequentavam as bruxas ou videntes. Vão desde inofensivas ou benéficas sugestões (incluindo o efeito placebo), até à vivência de vidas passadas.
Há pouco tempo aconteceu-me receber uma rapariga perfeitamente normal, bem instruída e executando bem o seu trabalho de grande responsabilidade. Só tinha um problema: antes de sair de casa perdia algum tempo a fazer verificações para se certificar de que não deixaria nada ligado ou aceso. Tinha medo de se queimar, a si ou aos seus pertences, porque tinha a certeza de que numa vida anterior, onde foi conduzida através de hipnose, teria sido queimada viva. Não há modo de provar o contrário, e um número cada vez maior de pessoas acredita na metempsicose. Há mesmo quem diga que algumas experiências de vidas passadas se podem provar por documentos históricos.
Até aí, tudo bem. O problema foi quando a jovem me identificou como um alienígena. Já tinha consultado outros psiquiatras, mas eles eram humanos, nada de especial, e ela não acreditou neles. Eu pertencia a outro mundo ou teria sido infectado por aliens, tal como os habitantes da Matrix. Fiquei um pouco perplexo e a pensar nos caminhos a que a Internet, com os algoritmos que reforçam as nossas crenças, nos podem levar.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.