Opinião: À Mesa com Portugal – Escolher

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Comer é um ato político. Sim. As nossas escolhas alimentares têm impato no mundo que nos rodeia, seja ele próximo ou mais distante e, através da alimentação, poderemos mudar a vida dos outros e, sobretudo, a nossa.
Sempre mais atentos à ideia de que fazer política é pertencer a um partido político ou votar, nem nos apercebemos de que a escolha do que comemos e como comemos pode significar reagir contra uma tendência ou acentuá-la. A verdade, é que não estamos muito habituados a pensar no que comemos mais do que os clichés habituais. Mas fazer política é fazer escolhas, delinear opções que podem favorecer a corrente ou ir contra a corrente e cada um de nós tem esse poder.
E sim, não vale a pena pensar somente no que nos é “vendido” como uma boa opção, há que ter espírito crítico, procurar informação, desconfiar do que é transmitido de forma encriptada, perscrutar a nossa hipocrisia em relação aos alimentos e à forma como os consumimos. É preciso que a alimentação não seja, apenas o aconchego que vai socorrer a fome, nem o consumo de lugares-comuns.
Os nossos antepassados tiveram que lutar muito para chegar onde estamos hoje. E nós, hoje, desperdiçamos metade dessa informação porque andamos distraídos e nem nos apercebemos que as nossas escolhas fazem a diferença. E não, não estou a falar de comermos morangos ou cerejas no Natal e como isso é contra o conceito da sazonalidade.
Falo sim de sabermos a origem dos produtos e a sua forma de produção, dos mais simples aos mais complexos e procurarmos essa informação, mas sem qualquer hipocrisia. É que parece que existe uma maldição associada à carne de vaca, mas há uma ingenuidade na produção das galinhas. Parece que consumirmos abacaxi é um pecado, mas o açúcar que é utilizado na nossa doçaria tem uma auréola de santidade.
Ao invés da carne que associamos a matadouros frios e cheios de sofrimento, consumimos peixe, mas nem pensamos na forma como foi produzido ou como foi pescado. O mesmo se passa com os vegetais, achamos que comer uma alface, um tomate, um brócolo ou uma couve flor é um ato de paz com o meio ambiente. Será?
É claro que a nossa liberdade de escolha esbarra contra as dificuldades económicas que estamos a atravessar, contra a falta de informação de que dispomos e contra a facilidade em conseguir bons produtos.
Consumimos não o que gostaríamos, mas o que conseguimos. Não obstante, acredito que as nossas escolhas podem ser mais reflexivas, mais intuitivas e mais colaborativas para um mundo melhor. Cada um de nós não tem de ser santo, mas também não tem de ter um véu nos olhos e escolher pelo que é ditado pelos vários discursos que por aí abundam. Escolher pela informação útil e fazer dessa escolha um ato político que vai fazer a diferença.

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