Opinião: ChatGPT: o pesadelo dos professores?

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Chegou aquela que é tida como a mais disruptiva das inovações dos últimos 20 anos: o ChatGPT é, desde novembro/2022, uma novidade presente em muitas conversas mas também já se anuncia como um dos pesadelos dos docentes, em particular, para os do Ensino Superior.
A educação e aprendizagem têm passado por diversas disrupções nos últimos tempos, mesmo não incluindo a pandemia. Mais atrás no tempo, quando aceder à Internet se tornou simples e acessível a todos, houve grandes discussões sobre o que seria possível consultar online e como se controlariam os trabalhos elaborados pelos estudantes e o que, desses trabalhos, era apenas copiado e colado, sem qualquer conhecimento ter sido adquirido. Mais recentemente, dada a diversidade de trabalhos prontos a vender e a baixo preço, tornou-se desafiante controlar essa proliferação de negócios ilícitos que são a antítese do que deveria ser o Ensino Superior: um espaço único de networking, aprendizagem com especialistas, contactos privilegiados com empresas, oportunidades de internacionalização e abertura ao mundo, necessidade de gestão de tempo e diversidade de temas e atividades disponíveis para enriquecer o curriculum. Tudo isso “cai por terra” quando se obliteram etapas.
Entretanto, o Urkund – e outros aplicativos do género – permitem detetar uma parte dessas “cópias”, evidenciando as duplicações. Todavia, quando se avizinhava uma batalha (quase) ganha, eis que surge o ChatGPT que é algo como nunca se tinha visto…
O ChatGPT responde a tudo o que perguntamos, gerando uma simpática conversa sobre um tema, seja ele simples ou complexo. Está disponível num website, sem necessidade de qualquer instalação, bastando um registo e uma confirmação de que somos o utilizador que se registou. Simples!
Nesta fase da elaboração do texto, não resisti a perguntar ao ChatGPT, em Português: “O que é que eu ganho em ser aluno do Ensino Superior”? Ao que o ChatGPT respondeu (sic): “Ser aluno do Ensino Superior oferece vários benefícios, incluindo: – conhecimento aprofundado e habilidades especializadas “em uma” (sic) área escolhida; oportunidades de networking e construção de relacionamentos profissionais; maior possibilidade de obter um emprego com salário mais elevado e melhores perspetivas de carreira; desenvolvimento de habilidades críticas e de pensamento independente; acesso a recursos e tecnologias avançadas; oportunidade de imersão em uma comunidade “acadêmica” (sic) diversa e enriquecedora; no geral, o ensino superior pode ser uma experiência transformadora que ajuda a preparar os estudantes para sucesso e realização pessoal e profissional”. Todo o texto que cito foi escrito pelo ChatGPT em segundos, partindo unicamente da minha pergunta e não copiando qualquer texto existente na Internet. Se corrigirmos os termos em “Português do Brasil” fica igual ao que escreveríamos, sendo impercetível que foi escrito por inteligência artificial.
Porque refiro o ChatGPT como um pesadelo para o Ensino Superior? Ainda estão muito presentes as formas de aprendizagem baseadas em repetição, memorização, pesquisas simples, sem compreensão real ou aplicação do conhecimento em novas situações, sem apresentação e discussão das aprendizagens, sem validar o que o estudante traz de novo para o processo de aprender. Com ChatGPT todas as aprendizagens que se mantiverem nesse registo, são dispensáveis. O estudante obterá, em poucos minutos, um relatório/artigo sobre qualquer tema, bastando colocar as questões adequadas. É mais um desafio à nossa forma de ensinar. Só que este não é um desafio difuso no nevoeiro, qual D. Sebastião que não se sabe se chega: ele está aí! E os estudantes sabem… e já usam!

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