Vera Bernardo: Uma campeã da Guarda talhada para corridas longas

DB/Foto de Pedro Ramos

Venceu, a 19 de dezembro, a Taça de Portugal, na Guarda – no Trail Passadiços do Mondego. Foi um objetivo à partida?

Não acreditava que ia vencer, mas, claro, desde início, foi sempre a lutar pelo 1.º lugar. Foi um ano a pensar na Taça. Sempre quis ir ao campeonato e foi um ano a fazer várias provas a trabalhar para esta.
Nunca pensei chegar em 1.º, porque estavam lá muito boas atletas. A concorrência era forte, mas, desde início, assumi a liderança e fui tentando manter-me sempre na frente.

Não seria, à partida, o tipo de percurso que mais lhe agrada, pois não?

Foi o primeiro trail que fiz na Guarda e o meu receio era que o percurso fosse muito pelos passadiços. Foi uma prova muito “corrível” e muito rápida.
Eu gosto muito de single tracks e de percursos mais técnicos e este era mais em estradão.

Para além disso era uma distância “curta”, de 34 quilómetros…

Pois, eu sou mais de endurance… Nunca fui boa na velocidade.
Foi uma prova rápida e eu vinha de uma prova muito técnica, na semana anterior, os Picos do Açor, e ainda sentia muito cansaço nas pernas. Correu bem!

A sua inscrição na Associação de Trail Running de Portugal é de 2018. Já corria antes? O que a levou a federar-se neste desporto?

Sempre gostei de correr e sempre gostei de desporto. Dava as minhas corriditas e começou tudo numa brincadeira no serviço, porque tínhamos duas horas para treinar por semana.
Comecei a correr aqui no Choupal e chegava lá ao fundo, à ponte, “morta”.
Nunca tinha feito uma prova e todos, no serviço, inscrevemo-nos na meia-maratona de Coimbra, em 2016. Nem 10 quilómetros fazia e fui logo fazer 21.
Desde aí fui fazendo uns trails da ADAC [Associação Distrital de Atletismo de Coimbra] aqui mais perto e até que, em fevereiro de 2018, fiz a primeira prova da ATRP, o Trial de Conímbriga – Terras de Sicó.

Foi 6.ª em seniores femininas e 8.º na geral feminina… logo na prova a seguir, no Piódão, venceu em seniores femininos e foi 2.ª à geral feminina. Depois disto, são raras as provas em que não vai ao pódio. As coisas têm-lhe corrido bem…

Sim, têm corrido bem. Penso que o espírito de sacrifício também conta muito aqui.
Ainda agora no Vouga Trail [Campeonato Nacional de Trail Ultra] não fui ao pódio…

Não foi ao pódio na geral feminina, mas foi 2.ª no escalão F40…

Sim, é verdade. No escalão fui 2.ª classificada (risos)… e é bom.

Neste momento, é 2.ª do ranking nacional de Ultra Trail e 3.ª em Endurance, no seu escalão, e 5.ª à geral feminina, em ambos. Está mais talhada para estas distâncias mais longas?

Sim, eu penso que sim.
Os primeiros quilómetros, enquanto não estiver bem quente, custam-me muito.
Se preciso de sete ou oito quilómetros para aquecer, e a prova for de 10 ou 15, é muito pouco.
Gosto mais de provas de 50 para cima.
As provas de endurance, de mais de 100 quilómetros, vamos ver como correm. São distâncias muito longas.
A próxima prova é precisamente o Campeonato Nacional de Trail Ultra Endurance, no Trail de Conímbriga Terras de Sicó – 111 quilómetros. No ano passada foi vice-campeã. Ganhar em casa tinha outro sabor?
Nunca ganhei, mas já fui 2.ª classificada. Ganhar no Sicó seria a cereja no topo do bolo.

É o grande objetivo da época?

Sim. Este ano já fiz três endurances. Quero apostar tudo no Sicó e, se ganhar, é sem dúvida a minha grande vitória.

Ainda se lembra da primeira vez que fez uma maratona?

Maratona só fiz uma, foi a do Porto, em novembro de 2019, e até me correu bem. Quinze dias antes tinha feito uma prova de 100 quilómetros e até fiz um bom tempo. Foi muito sofrida… prefiro o trail.

No meio de todas as medalhas, qual foi a vitória que mais gozo lhe deu?

A mais recente foi a da Taça, mas tenho uma outra que gostei muito. Os 50 [quilómetros] do Piódão, porque foi numas condições extremas. Muita neve, muito frio… havia partes do percurso em que não se viam as fitas nem nada por causa do nevoeiro. Só pensava se iria bem ou não… E se me acontece aqui alguma coisa?

Ainda terá muitas provas pela frente. Que objetivos tem em mente para este desporto?

Sem dúvida que entrar na Seleção Nacional seria um grande objetivo. Depende desta próxima prestação. Depois, claro que gostava ainda de fazer provas como o Mont-Blanc [na Suíça] ou o Zegama [País Basco, Espanha], que é outra referência… mas vamos com calma e uma de cada vez.

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