Na senda dos inúmeros casos que estão a denegrir em catadupa a credibilidade do país no seu todo, interna e externamente, a “dimensão filosófica” do debate em Portugal desvalorizou a opinião publicada e a opinião pública sobre a responsabilização pelo estado da atual governação, e a (falta) ética do servidor público, colocando em causa a confiança dos cidadãos perante o Estado no âmbito das regras a que estão obrigados os dirigentes e funcionários dos órgãos do Estado e da Administração pública.
“Se a exigência da opinião pública é populismo, então que o seja. Mas não é”, atirou o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. “Se não há respeito pelo conjunto de normas éticas e morais nos cargos eleitos, como irá haver cumprimento no seu exercício”, questionaram por seu lado alguns portugueses. Os governantes defenderam a cadeira, respondendo que estão de “consciência tranquila”.
“O porquê disto é que é mais matemático”, sublinhou em editorial o Jornal de Notícias, justificando: “Nas últimas quase três décadas, o PS esteve cerca de 75% do tempo no poder. E muitos dos seus agentes políticos estiveram, de uma ou de outra forma, também eles no poder. Ou seja, estar no poder tornou-se um hábito e não uma missão que se cumpre na vida.”
Do lado de cá, a “matemática do poder” começa a preocupar a comunidade portuguesa emigrante, com avultados investimentos no continente e nas ilhas, face a tamanha instabilidade política, insegurança bancária, greves, manifestações, contestações, investigações, condenações (poucas), e indemnizações milionárias de dirigentes públicos, e políticos que desrespeitam a Assembleia da República Portuguesa e o compromisso que fizeram para com o voto dos contribuintes.
Não é abonatório para o país, mostrar hospitais e escolas em degradação, com as ruas cheias todos os dias de milhares de professores, muitos deles também socialistas militantes da atual maioria absoluta, numa luta desesperada pela reposição da contagem de quase uma década do tempo de serviço prestado que o Governo lhes retirou. Confrontado, o chefe do Governo socialista, António Costa, respondeu: “Não posso resolver o passado”.
Para quem cumpriu, de casa às costas, sem nunca ter falhado um cêntimo do pagamento atempado dos salários aos governantes, deve ser muito duro ouvir isto.
A esta distância ficamos com a percepção que o Estado está “falido” para atender aos cuidados de saúde do povo e resolver a vida dos professores, porque na fila de espera estão outras tantas pessoas – magistrados, oficiais da justiça, militares, académicos e jornalistas -, na precariedade com carreiras em atraso.
É estranho ser o PS a degradar a função social dos pilares fundamentais prioritários das políticas públicas.
“Corrupção ‘non stop’, é o que é, mas este STOP está a incomodar”, disse-me esta semana um dos professores da Escola pública.