Ventura foi reeleito com 98.3%. A notícia deveria ser “quem foram os delegados que “in loco” não votaram no grande líder?”. Afinal de contas, os 600 delegados presentes eram todos afetos às listas distritais de Ventura, visto que as (eventuais) minorias ou oposições internas não tiveram sequer a possibilidade de participar no conclave. Esta blindagem diz tudo sobre a postura democrática de Ventura!
Mas nada disto parece importar aos portugueses se atentarmos na sondagem da passada semana que dava o partido de Ventura a crescer e já nos 12.9%. Aliás, se questionados, os nossos concidadãos dificilmente saberão identificar meia-dúzia de propostas consistentes – com conta, peso e medida – apresentadas pelo Chega no último ano. O partido vive exclusivamente do circo mediático construído em torno do grande líder, da agressividade cénica em cada sessão parlamentar e da permanente agenda oportunista. Para estes efeitos não será necessário pensar o país, ter um programa governativo nem tão pouco saber fazer contas. As sondagens confirmam-no!..
Acresce, que se é verdade que todos os partidos e os demais agentes políticos portugueses ainda não sabem como lidar com a nova extrema-direita portuguesa, não é menos verdadeiro que o jovem Bokassa lusitano tem tido nos jornalistas os seus maiores promotores, ora por omissão na denúncia do risco político que o extremista representa, ora na construção de uma agenda mediática assente em casinhos e manchetes populistas.
Paulo Baldaia (DN, Expresso) tem sido uma das raríssimas vozes jornalísticas a denunciar Ventura e a afirmar que as circunstâncias “ajudam a alimentar o monstro do populismo que cresce igualmente com jornalistas distraídos e procuradores vingativos”. Numa acusação certeira, Baldaia verificou que o crescimento do Chega se deve “não apenas pela natural revolta dos cidadãos a quem tudo falta e para quem nunca há solução, mas também porque existe uma estratégia deliberada de convencer a opinião pública de que eles são todos iguais, a podridão na política é generalizada e só a extrema-direita tem a solução.” O papel pedagógico dos jornalistas na defesa dos valores democráticos é vital. Mas há cada vez menos…
Lamentavelmente, o PSD apresenta-se como o maior fator de normalização do Chega e este fim de semana confirmou-o ao ser representado por Pinto Luz na Convenção. O maior defensor da aliança dos sociais-democratas com a extrema-direita. Vale tudo para chegar ao poder… mas o “abraço de urso” a seu tempo virá!
One Comment