Opinião: Bento XVI chega ao fim

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Cheguei a Roma para fazer o doutoramento em setembro de 2012. Bento XVI era o Papa. Depois do deslumbre inicial nesta cidade cheia de cultura, arte e espiritualidade, foi percebendo o quanto o ambiente eclesial estava pesado.
Todos os dias as notícias falavam de casos de pedofilia, de homossexualidade, de má gestão, de abusos de poder, de ‘esquemas’ no banco do Vaticano. Nas aulas havia uma certa ‘perseguição’ ao que era dito pelos professores. Nas ruas havia insultos aos padres…
Um dia o Papa Bento XVI decide surpreender todos quando anunciou a sua renúncia a 11 de fev de 2013. Estava cansado e não tinha forças para enfrentar todos os desafios que a Igreja estava a viver.
Ele soube ler os sinais dos tempos e percebeu que era preciso um gesto corajoso e profético. Só a inteligência, o desprendimento e a humildade permitem um gesto desta clareza e grandeza. A Igreja e a política ganhariam muito com esta sabedoria.
O papa Bento XVI foi um homem impressionante e determinante na transição entre o papa João Paulo II e o papa Francisco. Ele marcou determinantemente o Vat. II como perito, a teologia dogmática com os seus escritos e a Igreja com as suas encíclicas: Deus caritas est ( 25 de dezembro de 2005 ); Spe salvi ( 30 de novembro de 2007 ); Caritas in veritate ( 29 de junho de 2009 ).
São dele frases como:
«No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» (Deus Caritas Est, 1 ).
«Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo» (Homilia na Missa de inauguração de seu Pontificado a 24 de março de 2005 ).
«A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (Encíclica Caritas in veritate, 19 ).
O mundo e o contexto atual exige «um aprofundamento crítico e axiológico da categoria da relação. Trata-se de uma tarefa que não pode ser desempenhada só pelas ciências sociais, mas requer a contribuição de ciências como a metafísica e a teologia para ver lucidamente a dignidade transcendente do homem» (Caritas in Veritate, 53 ).
«A mensagem cristã não era só ‘informativa’, mas ‘performativa’. Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida» (Spe Salvi, 2 ).
«Ser cristão não é uma espécie de hábito para vestir em privado» (Audiência aos participantes da assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização a 30 de maio de 2011 ).
Com 95 anos, o papa Bento XVI chega ao fim. Ao fim porque termina a sua vida entre nós. Mas também ao fim como finalidade. Viveu como peregrino a regressar sempre à casa do Pai – Deus Trindade. Regressa à plenitude do Encontro e à plenitude de Vida, como ele tão bem descreveu na sua ‘escatologia’.
É tempo de dar graças pela sua vida e pela sua entrega.

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