Opinião: Ano Novo. Vida Nova?

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O ditado popular é antigo e certamente usado pela maioria de nós. Quando à meia-noite do dia 01 de Janeiro um novo ciclo se inicia, todos nós colocamos nas nossas 12 passas os desejos de uma nova e melhor vida. Se na passagem de ano para 2022 um dos desejos mais pedidos foi certamente o término de uma maldita pandemia, este ano tê-lo-á sido certamente o desejo de que um acto divino possa colocar término a uma estúpida guerra que decorre na Europa com impacto a nível Mundial. E se este desejo consumiu uma das 12 passas, que desejos terão levado as 11 sobrantes? Dependendo de cada um e o que cada um de nós mais anseia, obviamente que a diversidade de desejos pedidos ao “Todo Poderoso” terá sido enorme, mas face ao que vivemos actualmente, acredito que em Portugal uma delas possa ter sido destinada a uma genérica melhoria das condições de vida.
Este novo ano trás com ele um aumento do salário mínimo nacional, bem como a perspectiva de que os restantes salários possam sofrer actualização. Os dados mais recentes sobre a inflação dão nota de um ligeiro abrandamento apesar de se manter a níveis máximos dos últimos 30 anos. Os dados relativos ao desempenho da economia do nosso país parecem permanecer no terreno positivo, ainda que de forma cada vez mais ténue. À escala mundial, as notícias mais recentes apontam para um abrandamento generalizado dos preços das matérias-primas. O índice Dow Jones, que agrupa as principais matérias-primas (energia, alimentos, metais, entre outros), mostra uma descida de cerca de 7% dos preços, consequência do abrandamento económico e de diminuição da procura. Isto depois de ter chegado aos 15% nas primeiras semanas após o início da guerra. No sector alimentar, que tão importante é para todos nós, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a cotação dos alimentos tem seguido a mesma tendência, mostrando uma queda consecutiva nos últimos nove meses, tendo fechado Dezembro em níveis pré-guerra. Estas são notícias que nos trazem algum ânimo. Do ponto de vista do consumidor parece haver condições para perspectivar uma “normalização” dos preços. A realidade será também assim?
Na economia real, que é aquela que verdadeiramente interessa – e em particular no sector alimentar que é onde me incluo profissionalmente – o que posso retratar fica ainda muito longe deste desejável horizonte “normal”. Consequência do aumento dos custos de mão-de-obra, na minha realidade o que me tem chegado são, por parte da cadeia de fornecimento, novas tabelas de preços a entrar em vigor no imediato e em que a tendência é unânime: aumento de preços. A consequência na nossa operação é natural e para o curto prazo. Com margens que actualmente já ficam aquém do desejável por consequência de um 2022 com constantes encurtamentos das mesmas, o reflexo será inevitavelmente suportado pelo consumidor final. O Ano Novo Vida Nova para já parece ser mais Ano Novo Velhos Hábitos, pelo menos no arranque deste novo ano. Que o passar dos meses nos consiga trazer para a economia real o que aparentemente para já só existe na economia dos estudos promovidos pelos diversos organismos nacionais e internacionais e que o aumento dos salários possa significar efectivamente um aumento no poder de compra e consecutivamente na melhoria das condições de vida de todos os Portugueses.
A propósito. Dados os elevados preços, terá o nosso Primeiro-Ministro abdicado das suas passas na passagem do ano? E tal estará a ter como consequência o desgoverno que tem marcado a governação desta maioria absoluta? É que a confiança nos políticos – e em particular em quem nos governa – é um ponto fundamental para que o País se recupere. Dr. António Costa, acho que ainda vai a tempo de consumir as suas passas e pedir os seus desejos. Sugiro que numa delas coloque orientação. E se possível noutra coloque respeito por todos os que ainda acreditam na política portuguesa.
*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

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