Portugal é, por todos reconhecido, uma das melhores equipas do Mundo. Muito além de Ronaldo – que ainda merece destaque por tudo o que representa – há diversos talentos individuais com dotes invejáveis. Percebe-se que como coletivo tinham condições para fazer muito mais e melhor do que temos visto.
Mas há algo que salta aos olhos de todos. A falta de ambição, o calculismo bacoco e o atavismo congénito de um treinador, que foi campeão europeu (e por isso lhe estamos gratos), mas que há muito deveria ter deixado de o ser!
Há tempo demasiado que a “equipa das quinas” vai andando de sobressalto em sobressalto, dependendo da sorte, oferecendo exibições em regra sem brilho. Portanto, sempre uns furos abaixo do potencial efetivo dos artistas que tem e a quem falta um “maestro no banco” para deles retirar o máximo rendimento.
Pier Paolo Pasolini, famoso cineasta e escritor italiano, no início da década de 70 do século passado, descreveu como características do que chamou “futebol de poesia”, o drible – para ele “um momento de subversão” – assim como o golo, expressão poética por excelência! Ora, Portugal raramente encanta e os golos também não abundam.
Se dúvidas houver sobre a beleza intrínseca do futebol, leia-se ainda Vinícius de Moraes, um dos maiores génios criativos das artes brasileiras, onde podemos encontrar prosa sobre o encantamento do futebol. Em 1962, após uma vitória do Brasil sobre a Espanha, naquele que seria o segundo Mundial ganho pela “equipa canarinha”, Vinícius declarou que “…beleza maior beleza não tem nem pode ter toda raça vibrando com uma dispneia coletiva, ah que vasoconstrição mais linda o sangue entrando verde pelo ventrículo direito e saindo amarelo pelo ventrículo esquerdo e se fundindo no corpo amoroso de pobres e ricos doentes de paixão pela pátria…”.
O futebol é para ser jogado com arte, com garra, com alegria e com profunda paixão. Deve ser muito mais que um mero encontro tático em busca do resultadito… O treinador português não sabe o que é o “futebol de poesia” com dribles e golos, que exploram o lado mais artístico dos protagonistas, sobretudo quando estes têm competências e habilidades para tal. Podemos ir andando e passando até de fase em fase, mas nunca o nosso futebol será “literatura gestual”. E é pena! Ficaríamos todos mais felizes e orgulhosos. Independentemente do resultado!..