Quarta feira, 14 de dezembro, às cinco e meia da tarde. Chove a potes em Coimbra e parte da cidade berra pela falta de limpeza de bueiros e valetas.
Na rua do Brasil, entre a antiga passagem de nível de São José e as traseiras do Supercor, a rua inunda sempre que chove muito. Para não variar, também aqui os comerciantes e residentes se queixam de que as sarjetas só são limpas depois de entupirem e transbordarem.
No rés-do-chão de um dos prédios daquele troço da rua vive uma família de quatro pessoas. Instalaram-se há coisa de mês e meio e pai e mãe ainda dormem num colchão no soalho flutuante.
De repente, a água sobe de tal forma que entra por todo o lado – pela porta e pelas tubagens do esgoto. Até a sanita transborda…
Eric, 33 anos, brasileiro do interior do estado de São Paulo, tinha chegado a Portugal em agosto. Escolheu Coimbra pelo custo de vida mais aceitável, confessa. Dá serventia de pedreiro e arranjou colocação mas está, por ora, à espera que a empresa tenha obras para fazer.
Duas filhas menores
A mulher, Fabiene, logo arranjou trabalho numa escola. As duas filhas, Nicole, de 12 anos, e Manuela, de 6, estão na escola onde foi possível arranjar vaga, em Vendas de Ceira. Como vão? Bem, de autocarro e, até, de trotinete (!), guiada pela mãe.
Naquela tarde/noite de quarta-feira, a família de imigrantes não teve mãos a medir com a inundação. A água encharcou um colchão, entrou no frigorífico e levantou o soalho.
Na rua, todos os vizinhos limpavam água e lama. Um deles, Victor Quintas, com barbearia perto, aconselhou Eric e ligar à Proteção Civil. “A olho, disseram que não era caso para providenciar realojamento e aconselharam-nos a pedir ajuda ao senhorio”, conta Eric.
Entretanto, na rua, uma brigada da Águas de Coimbra fez limpeza às sarjetas. De uma delas, retirou entulho que depositou num saco plástico preto, deixado ali mesmo no passeio, pelo menos, até sexta-feira.
Na casa inundada, com cozinha, sala, casa de banho minúscula e um quarto de 2×3 metros, a família paga 450 euros de renda. “O senhorio disse que não podia ajudar mas devolveu a caução”, conta Eric.
O casal vai ter de mudar de casa. Logo no dia da inundação, Eric tratou de procurar alternativas. Uma coisa têm a certeza: vão mudar.