Opinião: Sobe, sobe, balão sobe… Da inflação e outros dramas

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A inflação corresponde a um aumento generalizado de preços e a uma diminuição do poder de compra. A inflação significa sempre aumento de preços: quando a inflação aumenta os preços aumentam mais rapidamente; quando a inflação diminuiu os preços continuam a aumentar, ainda que a um ritmo mais lento. Assim, inflação e cortes salariais têm impactos semelhantes na vida das pessoas: a inflação corresponde exatamente a uma perda de poder de. Os efeitos nos nossos bolsos são exatamente os mesmos.
A inflação tem efeitos profundamente assimétricos. Os pensionistas e uma parte substancial dos trabalhadores portugueses estarão a perder o equivalente a mais de um salário, no presente ano. Em contrapartida, o governo está a arrecadar mais entre 20 a 30% de impostos. Muitas empresas, por seu lado, estão a aproveitar este momento em que psicologicamente o mercado está mais recetivo, e estão a aumentar os seus preços e as suas margens. Na verdade, esta assimetria é mais evidente quando pensamos nos rendimentos mais baixos, cujos gastos estão concentrados na prestação da casa, nos postos de combustíveis e no supermercado, onde as perdas são muito mais substanciais. A inflação é geradora de ainda maiores desigualdades.
Tenho por isso para comigo que os aumentos salariais deveriam ser mais generosos. Devemos ter em conta que a economia vai crescer este ano, em termos nominais, mais de 15%. Se levarmos em linha de conta as conversas mais ou menos desacertadas dos nossos governantes que se manifestam contra a subida das taxas de juro do BCE, porque supostamente esta é uma inflação por via da oferta, então não haveria razões para se ser tão contido nos aumentos salarias: não se vê o perigo de uma espiral inflacionista por pressão da procura, ao mesmo tempo que estes “cortes salariais” vão ser profundamente recessivos. Claro está que uma inflação por via da oferta, só existe se alimentada pela procura. Mas uma pequena economia aberta como a portuguesa, acaba por receber grande parte desta inflação pelas suas fronteiras. Assim, não só as subidas de juro são desejáveis (veja-se que nos Estados Unidos parecem já estar a fazer efeito), como o perigo recessivo da inflação pode ser maior que o das subidas dos juros.
Assim, não posso terminar esta crónica sem uma reflexão sobre inflação e lucros excessivos. Qualquer pessoa medianamente formada percebe que uma economia que cresce, em termos nominais, acima de 15%, terá muitas empresas cujas vendas vão aumentar 15, 20, 30% ou mais. Dependendo da situação da empresa face ao seu break even point, aumentos de vendas desta magnitude levarão, inevitavelmente, a aumentos muito importantes e normais nos seus lucros, que podem mais que duplicar. Isto são lucros normais, que em outros períodos menos favoráveis, podem coincidir com prejuízos… igualmente normais. Algumas empresas poderão tirar partido do momento, como as energéticas, as farmacêuticas, durante a pandemia, entre outras. O estado deve regular… mas não confundir lucros normais com “coisas” difíceis de definir.
Na verdade, o verdadeiro beneficiário da inflação é o governo e as contas públicas: a receita vai ter um aumento absolutamente ímpar; e a dívida pública, em função do PIB… vai baixar, apenas porque o denominador vai aumentar de forma esmagadora.

 

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