O dono da Tesla, Elon Musk, tido como uma das referências modernas na gestão de empresas, decidiu comprar o Twitter e, sem pestanejar, despedir o respetivo CEO, assim como anunciar um plano de despedimentos de aproximadamente 3700 funcionários, logo nas primeiras horas após a aquisição. Mais, já comunicou um novo modelo de subscrição paga (cerca de 8 euros) para um serviço que até aqui funcionou sobretudo numa base de gratuitidade assente em publicidade.
Musk sabe que pode surpreender todos e tomar decisões desta natureza, porque essencialmente não tem concorrência. A esmagadora maioria dos utilizadores – entre os quais se destacam cúpulas e lideranças políticas globais – não se indignam com a frieza e aspereza do gestor Musk, porque objetivamente não existe uma alternativa ao Twitter. Da mesma forma que (apesar de algumas alternativas) há um motor de busca dominante no mundo, uma rede social incumbente e uma plataforma de “streaming” de música que se sobrepõe às demais.
Em suma, o mundo digital tal como o observamos atualmente é profundamente desequilibrado, porque é dominado por poucos “players” com expressão global, que, não por acaso, são quase todos americanos. Parece um paradoxo, visto que nunca se inovou tanto, nunca se constituíram tantas “start-ups”, nunca as universidades produziram tanto conhecimento aplicado e nunca houve tantos empreendedores. Então por que motivo acabamos todos – especialmente os consumidores – nas mãos de tão poucas empresas e alternativas?..
O mercado digital não pode ser encarado de forma distinta do mercado físico, mas tem-no sido há tempo demais. De igual modo, a leis concorrenciais, laborais e outras não se adaptaram ao mundo digital, cuja versão 3.0 e o metaverso nos trazem novos e gigantescos desafios – deixando andar tudo ao sabor do vento, em nome da inovação e da capacidade inventiva.
O caso do Twitter é a prova provada da pertinência do Ato dos Mercados Digitais, que foi negociado por dois anos na União Europeia e recentemente aprovado, como a primeira regulação que “procura colocar termo aos abusos de posição dominante dos gigantes digitais e a práticas anti-competitivas”. Acresce, que “pretende estabelecer condições equitativas para encorajar crescimento e inovação bem como uma maior variedade de escolha para os consumidores”.
Vai levar o seu tempo a produzir efeitos, mas vai chegar o dia em que não nos resignaremos com as brutais inevitabilidades do mercado digital!