Opinião: Ferrovia e Centralismo

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Na década de 90 do século passado, uma viagem de comboio entre a Figueira da Foz e Coimbra demorava 1h15m. Em 2022, a mesma viagem faz-se em 1h15m.
Com estas duas linhas está feita a piada ou o “meme”, como se diz hoje em dia. Uma piada que evidencia o desinvestimento histórico dos sucessivos governos na Ferrovia mas que expõe também o excessivo de centralismo que sempre se viveu em Portugal.
A região centro é das regiões que mais sofre com a falta de investimento na ferrovia. Não há acessibilidade ferroviária em Viseu, não há ligação ferroviária entre Coimbra e Leiria, ou seja, não há ligações ferroviárias entre 3 capitais de distrito. O Plano Ferroviário Nacional (PFN) apresentado em Abril de 2021, propõe-se ligar Leiria a Coimbra através da Rede de Alta Velocidade e prevê que a conexão Coimbra-Viseu seja efetuada via Aveiro através de uma nova linha Aveiro- Mangualde, denominada Corredor Internacional Norte. Este eixo é fundamental para melhorar o acesso das regiões Norte e Centro a Espanha e, do resto do país, à Europa além-Pirinéus. É tão fundamental que a sua execução está prevista para os últimos 4 anos do plano,2026-2030.
O principal investimento do Programa Nacional de Investimentos 2030 é a ligação entre Lisboa e Porto, através de linhas de alta velocidade que permitirão que a ligação entre Porto-Campanhã e Lisboa-Oriente se faça em 1h15m. Curiosamente, o mesmo tempo que demora ir de Coimbra à Figueira da Foz, uma ligação que, segundo a informação disponível, não tem previsto investimento significativo que possa reduzir a sua duração.
Para se ter uma ideia de valores, a estimativa de investimento para esta ligação é de 4500 milhões de Euros. A do Corredor Internacional Norte é de 600 milhões de Euros. Ainda no âmbito do mesmo programa, na área de mobilidade e transportes públicos, o maior investimento previsto é de 2300 milhões de euros para a consolidação da rede de metro e desenvolvimento de sistemas de transportes coletivos na Área Metropolitana de Lisboa. Como não poderia deixar de ser. A seguir, 1350 milhões de Euros para a mesma consolidação, na Área Metropolitana do Porto. Para o resto das cidades médias, estão previstos 200 milhões de euros destinados ao desenvolvimento de sistemas de transportes coletivos.
O investimento na ferrovia é uma boa notícia. Vem tarde. Muito tarde. Mas é importante que venha. O desequilíbrio dos valores do investimento entre Lisboa e Porto e o resto do país não é, sequer, uma notícia. É apenas a continuidade da política centralista existente desde sempre.
Não sei o que é pior, se a desfaçatez do governo central em falar de descentralização, ou o nosso silêncio, o silêncio dos portugueses de segunda que não vivem nem em Lisboa nem no Porto.

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