Opinião: Escola de hoje, escola de amanhã

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Numa sessão pública em que intervim recentemente, questionaram-me sobre o que eu entendia por escola de excelência para os tempos atuais.
A pergunta é de resposta difícil, se é que há mesmo resposta. De uma coisa estamos certos e estaremos de acordo: um local de humanização e de educação e não apenas de aprendizagem.
Sabemos que as famílias olham para a escola de hoje como um espaço de aprendizagens, claro, mas querem também que ela “guarde” os seus filhos e que dê atenção a tudo o que constitui o mundo dos jovens seres humanos que ali passam. Significa tal que estamos longe da escola de há vinte ou trinta anos e sabemos que no mundo as alterações são constantes, a informação circula a velocidades impressionantes, quase que não há certezas nas respostas aos problemas que a humanidade nos põe, o que agora se torna verdade pode estar a ser desmentido pelas descobertas que estão a ocorrer agora mesmo, quando estamos a ler este texto.
Para Edgar Morin, sociólogo, filósofo e antropólogo francês “trata-se de uma necessidade histórica-chave: uma vez que a complexidade dos problemas do nosso tempo nos desarma, torna-se necessário que nos rearmemos intelectualmente, instruindo-nos para pensar a complexidade, para enfrentar os desafios da agonia/nascimento desse interstício entre dois milénios e para pensar os problemas da humanidade na era planetária”. Ou seja, a escola tem a função de fazer com que os seus alunos atinjam sucesso nas matérias escolares, educativas e de cidadania, o que era impensável há algumas dezenas de anos.
O conceito de educação foi mudando, os papéis dos professores diversificaram-se, as famílias mudaram substancialmente ao longo destes últimos cinquenta anos. A chamada sociedade civil ganhou relevo e participação na escola, intervindo nos conselhos gerais, no diálogo permanente com os professores, na facilidade de acesso à escola que nem se sonhava.
A escola não é mais uma “capela” pertença exclusiva dos que lá trabalham, e está obrigada a tomar partido e a ser parte integrante das mudanças que ocorrem no mundo. Não se aceita uma escola parada no tempo, mas deseja-se, exige-se que saiba interagir com o meio ambiente, com o espaço onde está colocada e com o que vai acontecendo de novo e de transformador no universo.
Leio num jornal diário que em Portugal 200 mil computadores destinados aos alunos não foram levantados pelos respetivos encarregados de educação. O que significará isto: que há um grande poder de compara que permite aos pais dispensarem o direito que o Estado lhes dá ou, ao contrário, que para muitos “essa coisa” dos computadores é uma modernice desnecessária? Seria interessante abrirmos esse melão dos números para podermos analisar que evolução vamos tendo no conceito de educação.
E concluo: não há resposta verdadeira para a pergunta do que será uma escola de excelência. Integrar, aceitar a diversidade, assumir que a escola com equidade será sempre aquela que responda a esses problemas, não deixando ninguém para trás. E talvez esteja aqui uma tentativa para chegarmos ao que tão intensamente questionamos: como fazer da escola de hoje uma escola para amanhã.
PS1- As manifestações de jovens em favor das alterações climáticas, por muito que se discorde da maneira como decorreram as ações, têm o enorme mérito de nos trazerem à realidade de um futuro próximo, que será herdado por gerações ainda mais jovens do que a dos atuais manifestantes. E esse futuro traz no ventre a preocupação de como será esse mundo que as espera. Não será para o nosso tempo na sua totalidade. Mas será um dia. Saudemos, pois, os que se preocupam com o mundo de amanhã. Parafraseando a Drª Manuela Cruzeiro; “sejam realistas, exijam o impossível!”…
PS2- Oito mil milhões – eis os que habitam agora neste mundo de encantos e de preocupações. Uma Europa envelhecida espera o contributo de outros continentes para se rejuvenescer. Por muito que isso incomode aquele senhor deputado da “peste grisalha” é assim mesmo.

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