Vamos ao dicionário online, que explica muito bem explicadinho o significado da palavra marionete: “boneco (pessoa, animal ou objeto animizado) movido por meio de cordéis manipulados por pessoa oculta atrás de uma tela, em um palco em miniatura; fantoche; títere; pessoa sem personalidade, que se deixa manipular”.
O dicionário omite apenas um significado: professor. Esta é a realidade, os professores continuam a ser “marionetes” manipuladas como bonecos por essas duas entidades anacrónicas que dão pelo nome de ministério da educação (ME), por sua vez manipulado, ao que parece contrariado, pelo sindicato dos professores (SP), sem capacidade de resposta.
Esta sina dos professores tem dois pressupostos: 1 ) os diretores das escolas são desonestos, corruptos e não têm idoneidade para selecionar os professores; 2 ) a autonomia, há tantos anos decretada, continua a ser apenas o passa-culpas para responsabilizar as escolas pelo caos, instituído como destino último e inevitável pelo desnorte do ME e do SP.
Este é o retrato da escola pública. Investigadores e políticos responsáveis são unânimes: o centralismo burocrático, todo feito do imobilismo do ME e de retrógradas ideologias sindicais, é o responsável pela situação a que chegamos. Os professores merecem um ministério e um sindicato que os defendam e dignifiquem e não de “falsos representantes” que os afundem e desprestigiem.
A “lista nacional” que ordena os professores e os “quadros de zona pedagógica” são os instrumentos da tortura, supostamente impeditivos de injustiças e arbitrariedades nas colocações. Para o SP, isso é justo, mas não é injustiça obrigar um professor de Portimão a abandonar família – esposa, filhos, pais, casa – para lecionar em Bragança, e um de Bragança a deslocar-se no sentido inverso. Sem nenhuma contrapartida. O primeiro tem 13,1 na classificação profissional, o segundo 13,2, o que justifica que ambos estejam condenados ao suplício de se verem longe da família e do seu meio natural. O ME e o SP, se não conseguem esvaziar por completo as escolas públicas com a fuga de tantos professores, conseguem transformá-las numa espécie de “purgatório” onde os professores que resistem têm de carpir os seus “pecados” até perderem a capacidade para se concentrarem nos seus alunos e nos seus deveres profissionais. A qualidade e eficácia da escola não interessam, importa é ter este instrumento para manipular os professores e para esvaziar as competências das escolas.
Os burocratas, que veem nas escolas as origens de todos os perigos e arbitrariedades, parece que inventaram uma nova fórmula, – burocrática, claro -, a criação de conselhos locais de diretores, esses, sim, impolutos, não corruptíveis. Corruptos nas escolas, mas honestíssimos nos conselhos locais. Ou seja, o único espaço contaminado pela corrupção é a escola.
Nos países onde não são de todo desprovidas de razão, são as escolas que gerem os professores: selecionam, contratam, formam e, se necessário, despedem. Mas se um diretor ou conselho diretivo contratar alguém por motivações pessoais, familiares ou partidárias, é simplesmente demitido da função pública.
Ah! Isso não combina com a cultura do nosso país, do governo, dos políticos. Até posso concordar, mas seria bonito que fosse a escola a ter os meios e a tomar a iniciativa para afirmar a cultura das virtudes e valores que elevam o ser humano, a instituir, como objetivo central, a cultura da honra e da honestidade que dignificasse a função docente e salvaguardasse os alunos deste circo que dá aos professores o estatuto de marionetes e aos alunos o papel de bonecos animados ao sabor das marionetes.
Mudar como? Algumas sugestões:
Artigo 1 ) No âmbito da sua autonomia, compete às escolas selecionar, nomear e gerir todos os profissionais necessários ao seu bom funcionamento;
Artigo 2 ) Nos critérios de seleção deverão privilegiar-se a classificação profissional e as condições de melhor adequação ao exercício das funções a exercer.
Artigo 3 ) Nomeações por critérios pessoais, familiares ou partidários serão severamente punidas.
Artigo 4 ) Os docentes em exercício serão automaticamente promovidos quando acrescentarem novas formações de atualização: pós-graduações, mestrados, doutoramentos.
Artigo 5 ) Os cursos atrás referidos serão financiados pelo Estado.
Se queremos ter boas escolas, temos de saber transformá-las em modelos de boa conduta para os alunos e de investir nos professores para lhes dar o estatuto e o prestígio perdidos.