Opinião: Obras na Bissaya Barreto – embargar!

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A construção do IPO é uma montra da governação que temos tido em Coimbra. O partido socialista lidera todas as administrações e zonas de poder e desse modo, sem contraditório, aprova reformas e conduz a cidade para um abismo há mais de quarenta anos. O IPO estava obsoleto em hotelaria, em capacidade de crescimento e obviamente estava a ocupar um lugar inadequado no território urbano. Era uma oportunidade de pensar a cidade. As cidades não precisam de espaços como aquele naquele lugar. O IPO existe a cem metros do HUC, mas são estruturas que estão de costas voltadas, não se potenciam apesar da proximidade. Carlos Santos geriu uma e agora comanda a outra. Carlos Santos deve ter feito parte das negociações desta obra bizarra que agora estão a fazer e vai ser pai da outra que querem projectar para o HUC – a Maternidade de Sta. Engrácia.
Do ponto de vista arquitectónico, o IPO não está no século dezanove com pavilhões, nem estamos no século XX dos edifícios altos. Aquilo é um meio-termo. Chegado ao seu fim útil de existência podiam ter optado por construir a unidade nova no Sobral Cid semi abandonado, ou em Taveiro perto do retail parque. As instalações que surgiriam tinham sempre espaço de estacionamento, arruamentos adequados, conforto de paisagem envolvente, lugares de verde e de apoio para fontes de energia renovável. Um hospital de hoje não pode estar na rua Bissaya Barreto. Os doentes merecem mais que aquele corrupio de transportes e bombeiros todas as manhãs. A morte dos passeios para circularem peões é de há décadas. A insanidade de parqueamento é de há muitos anos. Os doentes de Coimbra são os inimigos do código da estrada e são frequentemente vítimas da multa como terapêutica da ansiedade da doença. Aqui a multa é quimioterapia. Aqui a polícia municipal é apoio social. Em Coimbra luta-se mais por meia dúzia de grandes e vistosas árvores que por uma política de PDM, uma participação de cidadania nas opções estratégicas. A quinta de Voimarães foi uma aberração urbanística (mais fogos por metro quadrado que na favela de S. Paulo – espante-se!) e agora vem esta náusea que estão a idealizar para o IPO.
Um hospital tem impacto ambiental, impacto social, gera economia e gera ansiedades. Os hospitais do futuro precisam de cuidados paliativos, carecem de lugares aprazíveis de encarar o fim. Os jardins, os estacionamentos, a chegada de mercadorias, tudo pertence à complexidade da estrutura hospitalar. “A adaptabilidade ao terreno de construção, a capacidade e complexidade técnica, tecnológica e funcional do edifício, a correcta definição das circulações (de doentes internos, doentes externos e visitas), a relação com o espaço público, as condições de conforto e segurança para os utentes e a flexibilidade dos espaços hospitalares constituem os principais parâmetros a ter em conta na programação hospitalar” (dissertação de Artur Vaz administrador hospitalar actualmente na privada).
Na minha ideia o Prof José Manuel Silva devia embargar a obra em curso, impedir a deformidade urbana, dedicar intensa observação à zona onde já viveu e aplicar medidas drásticas em defesa dos doentes. Os funcionários saudáveis das instituições deviam ter um parque perto da casa da Beira (antiga Opus Dei), ou onde foi o Pediátrico. Os parques dentro do CHUC e IPO seriam para os que precisam deles – os doentes! A cultura institucional do HUC é muito de “grand patron” e carece de uma mudança real, uma alteração abrupta das lideranças técnicas, escolhendo gente menos envolvida com as corporações e suas reivindicações e mais visão pelas comodidades e conforto dos utentes.

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