Opinião: A relevância da futura estação intermodal de Coimbra

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No final da semana passada, o arquiteto Joan Busquets veio a Coimbra apresentar a sua visão preliminar para o plano de urbanização da área envolvente à futura estação intermodal de Coimbra, que será uma revisão do plano de 2010, também da sua autoria. Em relação ao enquadramento do projeto, salientou que apesar de a Estação de Coimbra-B possuir uma posição geográfica central no município, aparenta estar “afastada” de tudo, em particular, da cidade de Coimbra, devido às atuais deficiências na ligação à Baixa e à fraca utilização do espaço público sob o viaduto do IC2. Estes serão, portanto, dos principais desafios a resolver. Joan Busquets perspetiva a regeneração desta entrada norte de Coimbra com base em dois princípios fundamentais: uma renovada hierarquização dos modos de mobilidade, passando a dar maior prioridade à mobilidade suave (a pé, de bicicleta ou trotinete) e aos transportes públicos (SMTUC, MetroBUS, etc.) do que ao automóvel, e o estabelecimento de novos “corredores verdes”.
Estes princípios serão materializados em, pelo menos, três ações principais. A “aproximação” à Baixa passará pela consolidação de um eixo de grande qualidade urbanística entre a Av. Fernão de Magalhães e a Estação, com reforço da ligação pedonal e em modos suaves, acompanhado da criação de uma “cortina verde” ao longo do viaduto. Para além da arborização deste eixo urbano, prevê um outro corredor verde, para efetuar uma conexão contínua, entre o Choupal e o Vale de Coselhas. No que diz respeito à estação propriamente dita, Joan Busquets defende que deverá ser um edifício arquitetonicamente “excecional”.
Por que razão é que a estação intermodal e o plano de urbanização são necessários?
A seguir a Lisboa e Porto, Coimbra é o mais importante hub de transportes nacional, pois articula a ligação entre o Litoral e Interior da Região Centro e desta com as restantes regiões nacionais, com destaque para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Note-se que, de todas as regiões portuguesas, a Região Centro é a que possui o Interior mais desenvolvido e inclui a principal porta de entrada do país por via terrestre, em Vilar Formoso. A relevância do hub de Coimbra torna-se evidente através da análise das infraestruturas e dos serviços de transporte nele oferecidos. Em termos rodoviários, efetua a conexão entre o principal eixo nacional Norte-Sul (a autoestrada A1 ) e um dos mais relevantes itinerários principais Litoral-Interior (IP3, que há muito deveria ter sido transformado em autoestrada!). Na ferrovia, permite a ligação da Linha do Norte à Linha da Beira Alta (na Pampilhosa do Botão, Mealhada). No que diz respeito aos serviços de transporte e tomando a Rede Nacional de Expressos como exemplo, Coimbra possui mais ligações diárias a Lisboa e Porto que as restantes capitais de distrito do Litoral juntas (Coimbra tem 62, enquanto Leiria tem 32, e Aveiro 21 ). Coimbra possui também muitos mais serviços diários ( 14 ) para Viseu (que, daí, seguem para a Guarda e a Covilhã). Assim, a discrepância de valores face a Aveiro e Leiria deve-se, em grande parte, à relação que Coimbra estabelece com a Beira Alta e a Serra da Estrela, e à necessidade de conexão destas com o Litoral e as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Acresce que Coimbra e a Beira Interior possuem uma relação umbilical e histórica, nas mais variadas dimensões (social, económica, etc.), muito para além dos transportes. Relação essa que se mantém bem presente e que deverá ser reforçada no futuro.
Por estas razões se percebe que a relevância da futura estação intermodal em Coimbra-B ultrapassa em muito as fronteiras e o âmbito conimbricenses e se afigura como uma importante obra nacional na área dos transportes e mobilidade.
Esta nova estação, que será servida pela futura linha ferroviária de alta velocidade, será fundamental para a Região Centro e para as populações do Interior, por vezes tão esquecidas. Deverá ser, portanto, um desígnio da Região Centro, que esta estação permita uma melhor mobilidade, mais sustentável, mais integrada, e mais eficiente. Tão bom seria que pudesse receber também a central rodoviária (atualmente na Av. Fernão de Magalhães).
A nova estação e o plano de urbanização são também importantíssimos para Coimbra. O plano de urbanização vai permitir a reformulação da estrutura urbana e da rede de transportes desta entrada Norte – provavelmente, a mais complexa, a mais congestionada e a mais feia entrada em Coimbra – que é fundamental para a cidade. Os princípios de planeamento apresentados por Joan Busquets, de privilegiar a mobilidade ativa e sustentável e a criação de novos corredores verdes, estão alinhados com as boas práticas das melhores cidades europeias.
No que diz respeito à estação propriamente dita, para além de ser um edifício funcional que permita a boa integração dos vários modos de transporte e a boa circulação interna de pessoas, deverá ser também um edifício de grande qualidade arquitetónica. Tal como a Estação do Oriente (em Lisboa), a casa da Música (no Porto), ou o Museu Guggenheim (em Bilbau), este novo edifício deverá afirmar-se como um novo ícone da cidade de Coimbra. Nas últimas décadas, a Ponte Pedro e Inês terá sido a única grande obra a conseguir alcançar este estatuto e a marcar positivamente a imagem da cidade – muito pouco para uma cidade da cultura, do conhecimento e da inovação. É boa altura de Coimbra se promover pela qualidade!

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