Não é a primeira vez que o coletivo Pescada N.º 5 (P5) se lança no desafio de ocupar instalações devolutas e lhes dá novos – e vários – sentidos. Desta vez, será o edifício da Coimbra Editora, no Arnado, a receber os olhares de cerca de 70 artistas.
O espaço onde milhares de títulos foram impressos até ao encerramento da empresa, em 2015, será agora habitado, durante dois dias, pela exposição “232 Celsius”. Uma referência a Fahrenheit 451 (a temperatura de ignição do papel), título do livro de Ray Bradbury que descreve “um país do nosso futuro onde se realizou esta distopia”, escreve Luís Januário no catálogo da exposição.
“São essas memórias, infiltradas no nosso tempo presente, que os Pescada nº5 agora revisitam”, acrescenta.
O evento, que volta a nascer da força voluntária de um coletivo de artistas, acontece no dia 12 de novembro (das 15H00 às 22H30) e no dia 13 (das 15H00 às 18H00). Porém, de acordo com Carlos Júlio, um dos principais impulsionadores das exposições do P5, no primeiro dia do evento “haverá nove performances” que não se repetirão no dia seguinte.
Além de instalações, esculturas, fotografias, desenhos, performances ou projeções de vídeo, a exposição vai incluir uma área com objetos da Oficina de Encadernação do Estabelecimento Prisional de Coimbra, que serão levados – e revelados –, de forma exclusiva para o evento.
A marcar presença nesta mostra estará também a Critical Software (que comprou os antigos armazéns da Coimbra Editora em 2018), com o laboratório criativo Fikalab e com o grupo de música da empresa “Estado Crítico”.
Narrativa poética
Não é a primeira vez que os Pescada N.º5 possibilitam acontecimentos deste género: no último ano o grupo também habitou o Paço dos Condes de Tentúgal, com a exposição e festa “É Primavera no Paço” (2022) e a Sociedade Porcelanas Coimbra, na ocupação “Admirável Mundo Novo” (2021).
Todavia, “é na antiga Coimbra Editora que o coletivo se apresenta com o seu maior número de colaboradores, (…) que se expressam de forma horizontal e colaborativa a criar uma narrativa poética sensorial denominada “232 celsius””, lê-se, no catálogo da exposição, num texto assinado por Adolfo Caboclo.
Recorde-se que o edifício da antiga “Coimbra Editora” foi adquirido pela Critical Software para a instalação da sede naquele espaço. Porém, a tecnológica ainda estará a avaliar qual a melhor forma de o utilizar no futuro.
Por agora, será com através da arte e do olhar de cerca de 70 artistas que volta a abrir-se à cidade.