“Deve ser pensada a construção de um hospital de raiz na Figueira da Foz”

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FOTO DB/JOT’ALVES

Pertenceu à anterior administração do HDFF. Este é um mandato de continuidade ou de rutura com o passado recente?
Não pretendo romper com o passado, é um mandato de continuidade. É, aliás, um enorme privilégio suceder ao professor [Manuel Teixeira] Veríssimo, por quem tenho uma estima incalculável, que fez no hospital um relevantíssimo trabalho. Este conselho de administração, com alguns novos elementos, pretende dar continuidade a esse trabalho.

Como é que estão as finanças do HDFF, tendo em conta a constante subida dos preços, sobretudo da energia?
A situação económico-financeira do hospital está melhor do que no ano anterior. O nosso indicador económico final está a cerca de 19 por cento acima do ano anterior e está dentro do orçamento. No entanto, não podemos deixar de referir que sentimos um aumento muito expressivo, de cerca de 70 por cento, do custo da energia. Os resultados que atingimos seriam significativamente melhores se não tivéssemos de acomodar mais 70 por cento dos custos energéticos.

Qual é o montante do próximo orçamento?
Tivemos um reforço financeiro significativo [de 36 milhões em 2022 para 38 milhões em 2023].

A Ponte Edgar Cardoso vai entrar em obras no final deste mês. Na apresentação do cronograma da empreitada, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Santana Lopes, disse que, atendendo a que o HDFF se encontra na margem esquerda, está a articular com a administração do hospital medidas de mitigação dos constrangimentos que se adivinham a partir de fevereiro. O que poderá ser feito da vossa parte?
Iremos trabalhar em articulação com a câmara municipal e com o Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego (ACES) para conseguirmos responder o mais eficientemente possível e garantir o acesso total à população, independentemente dos constrangimentos que as obras da ponte vão causar. Iremos articular com a câmara e o ACES em tudo o que considerarem relevante. Estamos disponíveis para termos alguma proximidade e articularmos serviços e meios de comunicação, utilizando as novas tecnologias. Estamos totalmente disponíveis para conseguirmos prestar o acesso mais fácil aos utentes que, ao invés de recorrerem à Urgência do hospital, possam vir a recorrer apenas aos cuidados de saúde primários.

Isso vai implicar o alargamento dos horários dos centros de saúde?
Essas respostas ainda não estão devidamente acordadas com todos os intervenientes, daí não poder adiantar cabalmente [a solução]. Os nossos serviços serão sempre mantidos. A proposta terá de vir do outro lado [ACES]. O que nós fazemos, vamos manter.

Em que estádio está a instalação de uma unidade de Cuidados Paliativos na antiga Casa da Mãe, ao brigo de um protocolo assinado entre o HDFF e a Câmara da Figueira da Foz – em julho de 2021 e em janeiro de 2022?
Vemos este projeto como estratégico para o hospital e para a cidade da Figueira da Foz. É um projeto cuja origem é do professor [Manuel Teixeira] Veríssimo. Estamos a trabalhar em articulação estreita com a câmara municipal, que fez o projeto de arquitetura e está a fazer, também, o projeto de especialidades da obra. O projeto de arquitetura foi já aprovado pela Direção Regional de Saúde do Centro. Já temos Cuidados Paliativos, mas apenas em consulta. Garantir este reforço adicional para os Cuidados Paliativos é de extrema importância. Cada vez mais, estes são cuidados muitíssimo procurados. A candidatura será formalizada. Este é um assunto que estamos a articular com a Câmara da Figueira da Foz, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Ainda a propósito de protocolos assinados pelo HDFF e a Câmara da Figueira da Foz, como está o processo para a instalação de Cuidados Intensivos no hospital?
É para manter. É nossa intenção garantir a disponibilização de uma unidade de Cuidados Intensivos. Achamos que esta diferenciação contribui para o reforço da nossa oferta cirúrgica, bem como cuidados médicos complexos. Este é o caminho a percorrer junto da tutela da Saúde. Iremos retomar os contactos que já foram feitos pelo professor [Manuel Teixeira] Veríssimo sobre este tema com as estruturas regionais e nacionais, de forma a conseguirmos garantir este projeto. Naturalmente que este é um projeto que não será concretizado de um dia para o outro. Portanto, terá de percorre o seu caminho e ter um conjunto de autorizações das estruturas do Ministério da Saúde, mas nós iremos fundamentados em motivos técnicos para defender a instalação dos Cuidados Intensivos. A nossa intenção é que esta unidade esteja fisicamente situada no antigo Bloco Operatório, que é uma área central do hospital, e que funcione, concomitantemente, como unidade de Cuidados Intermédios, que nos ajudarão no recobro cirúrgico de doentes complexos.

A Figueira da Foz é um dos poucos concelhos do país que não têm Cuidados Continuados Integrados (CCI). De que modo é que uma unidade de saúde destas poderá ajudar a aliviar a pressão dos internamentos no HDFF?
A esse propósito, já estamos a avançar com o projeto para construção de uma unidade de Convalescença, com 20 camas. O projeto está em concurso e vamos avançar com as obras em 2023. Este é um projeto que vem ajudar muito no tratamento subsequente de reabilitação dos doentes. Naturalmente que esses doentes terão cuidados muito mais diferenciados e direcionados para as suas necessidades de reabilitação nessas unidades, que são direcionadas para a convalescença. É um projeto que vemos com muito orgulho, porque vem melhorar, significativamente, os cuidados de reabilitação que damos aos nossos doentes, que, muitas vezes, num contexto de internamento normal é desadequado. Temos para este fim, ao abrigo do PRR, um financiamento de 600 mil euros. A unidade será construída de raiz [no HDFF].
Esta unidade não substitui os CCI.
Esta unidade vai dar ao hospital mais camas para conseguir rentabilizar as suas camas, nomeadamente cirúrgicas.

O HDFF veria com bons olhos a instalação de CCI
na Figueira da Foz?
Não há motivo nenhum para que vejamos os CCI com maus olhos.

Tem mais projetos para o hospital?
Sim, vamos avançar em breve com a requalificação das enfermarias de Medicina Interna e das Especialidades Médicas, bem como a dotação de equipamentos de ar condicionado. Temos, também, a conclusão da candidatura da eficiência energética e vamos avançar com as obras. [O investimento na eficiência energética passa pela]instalação de painéis fotovoltaicos, reformulação da fonte de calor do hospital, instalação de bombas de calor e centrais de controlo energético. O valor total desta candidatura é de dois milhões de euros, com 50 por cento de cofinanciamento.

Recentemente, as Urgências Pediátricas do HDFF encerraram durante a noite, por falta de médico. Este episódio poderá repetir-se?
Não. Estivemos uma noite com o serviço encerrado. No entanto, o hospital vai contratar, este mês, uma pediatra e, no início de novembro, outras duas. Portanto, serão três novas médicas pediatras que virão reforçar a equipa. Portanto, não é expectável que haja qualquer outro encerramento nas Urgências de Pediatria.

O HDFF tem recursos humanos suficientes?
Há áreas mais carenciadas do que outras. Como já disse, é o caso da Pediatria. Há outras especialidades onde também estamos com bastantes carências, nomeadamente Oncologia, uma especialidade que gostaríamos de ver reforçada. A Imagiologia, a Ginecologia e a Medicina Interna também têm falta de médicos. Estas são as especialidades com maiores carências de recursos humanos.

Quantos médicos e enfermeiros fazem falta?
Se tivéssemos mais, faríamos mais consultas e mais cirurgias. Temos prevista a contratação de 17 médicos em 2023. Para a contratação de enfermeiros, temos prevista a entrada de 15 em 2022 e outros 15 em 2023.

O HDFF já recuperou os atrasos provocados pela pandemia nas cirurgias e nas consultas?
A evolução tem sido muito positiva. Destacamos um aumento de sete por cento no número de primeiras consultas, face ao período homólogo. Somos, aliás, o melhor hospital do nosso grupo neste indicador. O número de doentes operados também aumentou quatro por cento. Em termos de atividade, temos ainda a destacar um aumento no serviço de Urgências, em cerca de 15 por cento em Urgência geral e 51 por cento na Urgência pediátrica. Também retomámos a normalidade da hospitalização domiciliária. Portanto, a atividade tem uma evolução muito positiva.

Qual é, neste momento, o tempo de espera para cirurgias e consultas?
Temos indicadores bastante bons. Estamos na casa dos 90 por cento, em termos de resposta, na cirurgia. Nas consultas, é um pouco menor, mas estamos também à volta dos 90 por cento. Estamos relativamente bem. A esmagadora maioria dos doentes tem consulta e cirurgia dentro dos tempos máximos de resposta garantidos.

O novo Bloco Operatório já está a laborar em pleno?
Iniciámos a atividade com três salas, com os equipamentos que tínhamos [no antigo Bloco Operatório]. Houve algum atraso no funcionamento do ventilador. Atualmente, já estão as quatro salas em funcionamento.

Esta é uma pergunta para muitos milhões de euros e que já foi feita a seus antecessores: defende que, a curto ou médio prazo, deve ser formalmente colocada à tutela da Saúde a necessidade de se construir um hospital novo na Figueira da Foz?
Na minha opinião, sim, deve ser pensada a construção de um hospital de raiz na Figueira da Foz. Este hospital está localizado à beira-mar. Com as alterações climáticas, é natural que se sinta, cada vez mais, esta proximidade e os efeitos nefastos que esta vai causar. Sabendo que este é um processo que demora o seu tempo, que o investimento na construção de um novo hospital é muito avultado, na minha opinião, isso deve ser equacionado pelas entidades locais, regionais e nacionais.

Caberá, decerto, à administração do HDFF tomar a iniciativa junto da tutela. Vai fazer isso durante o seu mandato?
Sim. É nossa intenção chamar a atenção para este assunto. De maneira informal, já o fizemos. Agora, vamos [fazê-lo formalmente]. Como se sabe, o Hospital Central de Lisboa esteve para ser construído durante cerca de 30 anos e iniciou agora as obras. Estes são processos muito longos. Não vemos que um ofício vá ou não formalizar o assunto, mas vamos, em todas as sedes, defender que é necessário começar a equacionar este assunto.

Espera contar com as chamadas forças vivas do concelho da Figueira da Foz para sensibilizar o Governo?
Sim. Temos toda a abertura para conversar com todas as estruturas [do concelho] para se garantir o máximo de consenso em torno da ideia da construção e da localização de um novo hospital na Figueira da Foz.

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