Por estes dias de regresso às aulas para a maioria dos alunos até ao final do Ensino Secundário, muito se tem ouvido e discutido sobre a falta de professores, a forma como o acesso à profissão tem vindo a perder atratividade (é, realmente, muito raro um dos nossos alunos, mesmo no Ensino Superior, referir que tenciona ser professor) e em como é difícil, se não insuportável, ultrapassar as provações da situação nómada a que muitos professores são continuamente expostos, as consequências psicológicas, financeiras e de bem-estar que isso lhes traz, fazendo com que muitos tenham desistido dessa profissão, alguns depois de muitos anos de investimento e tentativas. Sempre houve sinais de que estas dificuldades iriam existir a breve prazo e há mais de uma década que soam alarmes quanto ao número de professores acima dos 50 anos.
Quando iniciei a minha atividade docente no ensino secundário, em 1993, o grupo de TIC não existia e a área era ainda relativamente recente no Ensino Secundário, sendo as disciplinas lecionadas praticamente apenas as dos Cursos Técnico-Profissionais de Informática. As contratações eram, por isso, realizadas ao nível de escola. Encontrei, nas duas escolas onde trabalhei nesses 2 anos como professora de TIC no Ensino Secundário, excelentes equipas, motivadas e interessadas em promover a atratividade das carreiras relacionadas com as tecnologias. Por norma, estes docentes, tinham a seu cargo manutenção dos laboratórios, participavam em vários projetos e, o seu domínio de tecnologias era bastante solicitado por todos. Entretanto, foi criado o grupo de Informática (550) e as TIC passaram a estar, de forma progressiva, presentes no 2.º e 3.º ciclos e, mais tarde, também no 1.º ciclo. Porém, a atratividade da profissão docente em TIC começou a perder-se, muito por comparação com as carreiras que os profissionais dessas áreas poderiam fazer no privado. Mesmo que o salário não seja apenas um dos aspetos a considerar na escolha, sabe-se que, embora um professor em início de carreira possa usufruir um salário semelhante ao de um profissional de tecnologias na mesma situação numa empresa privada, as dificuldades de progressão no ensino, muito limitadas pelas avaliações de desempenho que, mesmo Excelente, são ostensivamente limitadas por quotas exíguas, fazem com que o salário no ensino seja pouco apelativo logo nos primeiros anos.
As empresas de tecnologia parecem fazer exatamente o caminho inverso do Estado no que respeita ao seu employment branding: sabendo o quão necessários são os profissionais nesta área, proporcionam excelentes espaços de trabalho, preocupam-se com o bem-estar dos colaboradores, atendem à negociação periódica dos contratos, planeiam recompensas e muitas ocupam os rankings das melhores empresas para trabalhar, para além de oferecerem modelos híbridos de trabalho, hoje tão apelativos. Assim, profissionais no privado com poucos anos de experiência ganham claramente mais do que um professor de TIC com mais de 20 de carreira… Com este cenário, quem quer ser professor de TIC? E como inverter a situação? O cenário não é animador…