Tal como um dia terá dito Tom Jobim. E não é mesmo! Depois de vários anos e experiências posso testemunhá-lo, mas nada melhor que socorrer-me da descrição singular do também único Ruy Castro para o justificar: “num país em que traficantes cheiram, prostitutas gozam e, para se manter no poder, a direita elege governantes de esquerda, o Brasil pode ser para qualquer um, menos para principiantes. Ou para gente de muitos princípios”.
Vem isto a propósito de que de hoje a oito dias já teremos os resultados da primeira volta das eleições presidenciais no Brasil e, portanto, será conhecido o futuro Presidente. A dúvida não reside no vencedor, mas apenas no momento da aclamação. Afinal de contas, Lula da Silva é o grande favorito, resta saber se precisa de duas voltas para vencer Bolsonaro. Tudo indica que não…
Quem acompanha – com racionalidade q.b., mas distância física e emocional – a muito peculiar realidade política brasileira pode sempre esperar tudo, mas neste caso as pesquisas confluem todas para o mesmo: Lula vence, há uma tendência de primeiro turno, o voto útil será determinante e Bolsonaro tenderá a encenar um golpe.
Não poderiam existir mais ironias: Bolsonaro foi o produto mais evidente do “Petismo” (leia-se Lula & Dilma) e, agora, torna-se o seu maior algoz. Sem os erros graves do “Petismo”, e a incapacidade de reconhecer muitos deles até hoje, nunca Bolsonaro teria existido ou adquirido a presente dimensão. Não deixa de ser curioso que Lula tenha escolhido para Vice, Geraldo Alckmin – seu antigo adversário e homem do centro-direita – para aliviar o estigma de esquerdismo extremo e, assim, ganhar espaço ao centro e à direita. De igual modo, – e como tantas vezes em Portugal – a batalha das esquerdas faz vítimas e subtrai ao invés de adicionar. Neste caso, será Ciro Gomes, o candidato mais bem preparado e com melhor programa, que vai ser aniquilado pelo “voto útil”, não deixando de ficar na história como aquele à esquerda que poderia ter derrotado Bolsonaro há quatro anos, assim o “Petismo” tivesse querido!..
Visto da Europa existe um desejo evidente de mudança para voltar a ter o Brasil não como pária, mas como parceiro internacional no combate às alterações climáticas, à desigualdades sociais e no aprofundamento dos acordos comerciais, que com Bolsonaro foram meras ficções.
Desta vez, “o dia seguinte” no Brasil será crucial para evitar desmandos e para tanto Lula tem responsabilidade acrescida, não permitindo que um determinado “Petismo” reinvente o “Bolsonarismo”!