Opinião: Another green world

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Another green world, um outro mundo verde, é o título do terceiro álbum de estúdio de Brian Eno. E, nos tempos correntes, bem pode representar o imperioso lema de uma contra-revolução ecológica.

Um dos aspetos mais fascinantes, e mais aterradores, do capitalismo é o modo como captura as suas contestações convertendo-as em mercado. Assim aconteceu, desde logo, com a contestação intelectual e artística, como a atribulada encomenda a Diego Rivera de mural para o Rockefeller Center de New York bem exemplifica.

Assim acontece, hoje, com a ecologia e o ambientalismo. As ligações da World Wide Fund for Nature (WWF) a multinacionais campeãs da poluição predatória, como a Monsanto, têm sido regularmente denunciadas, sem êxito apreciável, contudo. O que tem permitido a essa ONG continuar a conceder a tais empresas certificados de sustentabilidade, com a simpática figura do panda, em troca de generosas doações, fiscalmente dedutíveis, ademais.

Não se pense que o problema é exclusivo do malévolo capitalismo americano. A Europa comunitária que, para inglês ver, de quando em quando se dá arremedos semânticos de capitalismo de rosto humano, tem, nesta sede, tristes histórias para contar.

O dieselgate é exemplo suficiente do cinismo ambiental europeu. As instituições da União, tão implacáveis no juízo condenatório dos alegados desmandos orçamentais dos países do Sul, candidamente fecharam os olhos aos falsificados papers ambientais apresentados pelo lobby automóvel alemão, cumulando-o, na produção de veículos diesel, de generosos subsídios e benefícios fiscais.

O mesmo acontece, como recentemente denunciado em investigação do New York Times, com a eleição da madeira como energia renovável. O resultado é a destruição massiva de florestas centenárias na Europa Central, na Roménia em particular, para glória da indústria de pellets, e, imagine-se, emissões de carbono muito superiores às causadas por combustíveis fósseis.

Nada que surpreenda, afinal, numa Europa que, no turbilhão da atual guerra, acaba de requalificar o nuclear como energia “limpa”. E que é agente ativa da destruição da agricultura tradicional, pela concessão de monstruosos apoios ao setor agro-industrial – sim, a agricultura já não é agricultura, é indústria. Como é agente ativa da destruição dos ecossistemas marinhos, e dos tradicionais modos de vida piscatórios, pela apologia da poluente aquacultura, indústria também beneficiária de relevantes apoios materiais.

Esta Europa não é a Europa imaginada, querida e desenhado pelos Pais Fundadores, Jean Monett e Robert Schuman, na ressaca da duas primeiras guerras mundiais. Continua a ver agravado o seu déficit democrático e afasta-se cada vez mais do seu original modelo social.

Numa Europa assim, tão longe do capitalismo social e tão próxima dos capitalismos americano e chinês, não espanta que o único verde que conta seja aquele verde que, ao que consta, é a cor do dinheiro.

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