O papel da mulher na cozinha. Discute-se e muito. Quer-se compreender a razão da presença discreta das mulheres nos cargos de chefia quando passaram a sua vida atrás dos tachos a fazerem os outros felizes. Eu encolho os ombros. Não que não acredite que tal não acontece. Apenas porque sei que não é apenas um problema exclusivo da cozinha. É uma questão que afeta as mulheres de uma maneira geral.
E, sinceramente, até me apetece dizer que até se mastiga bem esse paternalismo que acontece no mundo profissional da cozinha, pois que as chefias já começam a ter uma perspetiva não tão recalcada sobre o assunto e as mulheres sabem usar a sua competência para sobressair. A mim, o que me chateia são os julgamentos bafientos a que, nós, mulheres ainda estamos sujeitas de uma forma geral. Bom aí é que fico com os cabelos em pé e me deixo dominar por uma revolta grande.
Não vale a pena enganar e dizer que sim, que estamos a conseguir uma mudança de atitudes. O problema é que nem tudo se resume à igualdade na profissão ou ao acesso à liderança. Não… o busílis está nos preconceitos que continuam a ser atirados como rasteiras e deitam abaixo qualquer uma pela versão social do que é a mulher.
Podia desfiar imensos exemplos do que são as diferenças de juízos e sentenças entre masculino e feminino. Uma atitude de liberdade no homem é libertinagem na mulher. Um comportamento de ousadia no homem é uma insensatez se for protagonizado por uma mulher. A moralidade passa a imoralidade e o direito de um, passa a dever do outro. Difícil… e sim, assumindo, claro está, que não há santas. Aliás porque deveríamos ter as mulheres imperturbáveis ao erro? Cristalizadas no altar de boa esposa, boa mãe, boa profissional, boa filha, boa amiga, excelente em tudo? No regaço da mulher cabe o mundo inteiro, todo o amor, todo o carinho, todo o profissionalismo. Mas é ela que decide o que cabe. E sim, tem direito aos seus erros, ao caminho que quer trilhar, mesmo sabendo que pode errar.
O problema é que, às mulheres, é vendida a ideia de que o bom comportamento social traz felicidade. É-lhes prometido um mundo que não acontece na vida real. E a mulher não é um robot programado para cumprir funções. É um ser humano disponível para a vida e para tudo o que ela contempla.
Por isso, precisamos não ver com olhos diferentes um homem e uma mulher. Sabemos que é tão mais fácil acusar quem durante séculos foi obrigada a estar calada e a manter a compostura. Agrilhoadas pela dependência financeira e emocional, resolveram assumir e encarnar um papel que, nem sempre, lhes assentou bem. Mas, hoje, há que mudar o olhar e a atitude.
O grave? Bom, é que são as mulheres que, de uma forma geral, educam os futuros homens e mulheres e, enredadas na cultura da mulher perfeita, nem se apercebem dos juízos e valores que passam às gerações seguintes. Por isso, digo. Não é um problema exclusivo da cozinha, é da sociedade. E não é um problema que tenha de ser resolvido pelos homens. São as mulheres as principais protagonistas da mudança. Estamos preparadas para isso?
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