O que o leva a candidatar-se a bastonário da Ordem dos Médicos?
O momento que atravessamos é de particular exigência. Foram dez anos em que aguentámos uma crise económica, financeira, social e sanitária. Agora estamos perante uma crise bélica a leste da Europa de contornos e impactos imprevisíveis. Os efeitos sobre o setor da saúde têm tido consequência sobre a capacidade de resposta das instituições e sobre o trabalho dos médicos. A Ordem dos Médicos tem um papel central no setor da saúde e vai ter um desafio importante para os próximos anos. O bastonário da Ordem dos Médicos terá o papel de unir a classe médica, de manter uma grande proximidade dos médicos e, sobretudo, de cumprir a sua missão de provedor dos doentes. Os médicos dedicam a sua vida a melhorar as dos outros. Além disso, tenho-me dedicado muito às minhas funções na Ordem dos Médicos e, agora, mais do que nunca, entendo ser necessário ainda mais empenho e uma visão moderna que pretendo protagonizar. Há quem queira regredir o papel da Ordem, ao preferir uma instituição mais submissa e amorfa. Não será esse o meu propósito. A Ordem dos Médicos tem de continuar interventiva e saber apresentar propostas construtivas e concretas para melhorar o sistema de saúde e os cuidados prestados aos doentes.
Quais são os principais desafios que se colocam, nesta altura, aos médicos?
E ao bastonário da Ordem dos Médicos?
Uma das funções da Ordem dos Médicos, estatutariamente definida, é defender a qualidade da medicina, a qualidade do ato médico praticado. A Ordem dos Médicos é um garante da boa prática médica, tendo ela lugar numa instituição do setor público, privado ou social, aliada a padrões exigentes de ética e deontologia. Porventura, esta é a missão mais importante da Ordem. Tenho falado frequentemente de uma Ordem dos Médicos enquanto Provedora do Doente, sempre atenta às necessidades dos cuidados de saúde e com uma visão hipocrática da medicina.
Mas, além de defender o doente, o Bastonário deverá saber defender os médicos, na justa medida em que estes são os portadores de esperança para quem necessita de cuidados. O bastonário deverá exigir condições adequadas de trabalho para os médicos poderem tratar os seus doentes segundo as leges artis. As carreiras médicas deverão ter uma aplicação efetiva para cumprir com o seu papel na diferenciação médica e na construção das equipas de trabalho. Não queria esquecer a formação médica com a qual o bastonário deverá manter elevados níveis de exigência. Não podemos fazer nenhuma concessão aos aspetos da qualidade na saúde, tanto a nível assistencial, como a nível formativo. Todos estes aspetos têm a ver com a dignificação da profissão médica e com o reconhecimento do papel dos médicos no sistema de saúde.
Um outro desafio que se coloca à Ordem dos Médicos é também uma reforma estrutural e a capacidade para a modernização dos seus serviços, nomeadamente, através da transformação digital como meio de aumentar a sua eficiência e a proximidade com os médicos. A lei-quadro das Ordens Profissionais está a ser revista, sendo esta uma oportunidade para a Ordem dos Médicos poder introduzir as alterações necessárias para um melhor funcionamento interno.
Ao candidatar-se a bastonário, que prioridades elege para a sua ação?
Sinteticamente, apontaria três desafios prioritários entre muitos: unir a classe médica, ouvir os médicos aproximando a Ordem dos Médicos dos seus associados e apresentar propostas e soluções concretas para os problemas do País.
A união dos médicos é essencial para fazermos face aos enormes desafios que se estão a colocar. É uma classe profissional muito heterogénea, mas com objetivos comuns muito concretos. Já falei neles: a qualidade da medicina praticada como principal elemento de defesa do doente, a exigência de uma boa formação médica, o respeito pelos pressupostos éticos e deontológicos e a dignificação da carreira médica. Estes pontos enumerados são pontos de união fundamentais.
Passei os últimos anos a ouvir os médicos, a dialogar com associações de doentes, a reunir com os vários agentes do setor da saúde. A Ordem dos Médicos tem de ser um motor desta agregação, tem de saber juntar o que se tem afastado, temos de estar “Juntos pela Saúde”. É uma responsabilidade de todos que deve ser promovida pela Ordem dos Médicos.
Os dois últimos bastonários, Prof. Dr. José Manuel Silva e Dr. Miguel Guimarães, foram uns promotores de importantes transformações que o próximo Bastonário deverá saber aproveitar e aprofundar. A modernização da Ordem dos Médicos não pode ser travada, não podemos voltar a práticas anacrónicas e a modelas conservadores. Precisamos de uma instituição moderna e que compreenda os anseios de todos os médicos, independentemente das diferenças geracionais.
Ler entrevista completa na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS em 28/09/2022