Decorre hoje (quarta-feira), pelas 21 horas, no Convento de São Francisco, em Coimbra, um concerto intitulado “Pela Liberdade e pela Paz”, a cargo da Orquestra Clássica do Centro.
Trata-se de uma iniciativa que celebra os 250 anos do nascimento de José Liberato Freire de Carvalho, um conimbricense ilustre e antigo estudante nesta cidade, que é pouco conhecido pelos seus conterrâneos actuais.
José Freire de Carvalho nasceu na Quinta de Montessão, S. Martinho do Bispo (Coimbra), a 20 de Julho de 1772 (Liberato foi o nome que ele próprio decidiu adoptar anos mais tarde). Era filho do Doutor Aires Antunes Freire, mordomo da Universidade de Coimbra, e de D. Maria Joaquina Sequeira de Carvalho.
Concluídos os seus estudos preparatórios, em 1787, com apenas 15 anos, ingressou na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde iniciou os estudos de Filosofia e Teologia. Dois anos mais tarde (em 1789) acontecia a Revolução Francesa, com os ecos desse movimento de Liberdade, Igualdade e Fraternidade a influenciarem os ideais do jovem estudante. Viria a transferir-se para o Mosteiro de Refóios do Lima, onde concluiu os estudos teológicos em 1795. Ali permaneceu até 1800, ano em que foi nomeado professor de Lógica, Retória e Eloquência na escola anexa ao Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Na capital conviveu com personalidades tão diversas como Gomes Freire de Andrade, Bento Pereira do Carmo e Manuel Maria Barbosa du Bocage, vindo a integrar-se nos círculos pró-liberais e na Maçonaria.
Como ele próprio refere em “Memórias da minha Vida” (que começou a escrever com quase 81 anos e que é uma obra de grande importância para a História do Liberalismo em Portugal e na Europa): “Servi o meu País com todo o cabedal da minha inteligência. Concorri muito para lhe dar liberdade, padeci por ela desterros, prisões, emigrações e trabalhos”.
Perseguido pela Inquisição, exilou-se em Inglaterra, aí abandonando a vida eclesiástica e dedicando-se ao jornalismo. Em Londres fundou e dirigiu o jornal O Investigador Português.
A importância desta sua actividade está bem documentada num livro intitulado “O Nascimento do Jornalismo Português Livre – O jornalismo luso-brasileiro em Londres (1808-1822)”, da autoria do académico brasileiro Luís Francisco Munaro, apresentado em Coimbra no passado mês de Junho, com intervenções muito interessantes pelos Professores Isabel Vargues, Adelaide Machado, Luís Reis Torgal e Vital Moreira.
Para além do concerto desta noite, os 250 anos de José Liberato são o tema de exposição documental e bibliográfica que será inaugurada depois de amanhã (sexta-feira, dia 22), pelas 16 horas, na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra, focando a sua intensa e variada acção enquanto político, historiador, editor e jornalista.
Uma vida muito rica e profícua, que bem merece ser divulgada e devidamente apreciada.