Muito especial é morrer de sede no meio do mar, cheio de secura metido em água. Especial é também usar as desgraças na oposição e apoucá-las no governo. Tristíssimo é ganhar o Euromilhões e morrer oito dias depois sem o ter saboreado. Estúpido é obter a reforma e adoecer gravemente. Mas o especial de tudo isto é que não é uma escolha, nem culpa nossa. Acontece! As coisas acontecem e aparecem apesar dos nossos cuidados e das nossas vontades.
Claro que nós podemos intervir na saúde, evitando as toxicidades, recusando os exageros, reduzindo a exposição, evitando perigos desnecessários, cumprindo regras de segurança, antecipando os riscos e acautelando as incertezas. Algum exercício, algum cuidado com os alimentos, cautela no transito, manutenção das máquinas e das estruturas, tudo isto é possível e previne as ignições da doença. O tecido humano é exactamente como a Natureza em geral. Há um combustível, uma distribuição, uma estrutura de sustentação e depois há moedas de troca e tecidos empresariais que se contendem pela importância. O coração adora ser mais importante que o ânus, mas sem cu morremos, sem coração também, sem cérebro mudamos de estatuto. Assim é tudo importante, é tudo impossível de prever, é tudo um caminho de negociação onde podemos gerir parte do futuro, mas nunca o futuro inteiro.
Além daquilo que podemos fazer, ainda há os azares: a varanda que caiu na pessoa que caminha, a bola de golfe que perfura um vidro de um carro, o fogo que rebenta a bilha na casa do vizinho, o Putin que invade a Ucrânia. Os azares, as incertezas, a distracção dos outros, a negligência de alguém, o improvável existe e nunca falha. A vida é esta rede de questões que em cada dia nos demonstra a importância de viver feliz. A vida pode acabar num segundo.