Opinião: “Pode a sexta-feira ser o novo sábado?”

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O Governo prepara-se para iniciar o estudo de novos modelos de organização do trabalho que incluem experiências como a semana de 4 dias. Um teste que deverá envolver, por agora apenas no setor privado e de forma voluntária, 100 empresas onde este modelo será estudado como experiência-piloto. gRecentemente foi também divulgada a posição de Portugal no Ranking da competitividade, com o nosso país a cair várias posições e a ocupar um dos lugares mais baixos da União Europeia. E, quase de seguida, ouvimos o desafio de António Costa de subir em 20% os salários nos próximos 4 anos. Significa que estamos a pedir, quase em simultâneo, maior produtividade e melhores salários em apenas 28 ou 32 horas de trabalho por semana. Será tudo isto hipoteticamente conciliável? Sabemos que, historicamente, as propostas de redução da semana de trabalho foram sempre contestadas e consideradas inviáveis, invocando-se dificuldades económicas e necessidade de aumento prévio da produtividade. Aconteceu por exemplo na alteração para a jornada de 5 dias nos Estados Unidos proposta por Henry Ford já em 1926 e, da mesma forma, em Portugal, várias décadas mais tarde.
Perante um cenário em que, no contexto europeu, ocupamos um lugar entre os países com menor produtividade por hora de trabalho e em que figuramos entre os países em que se trabalha mais horas por semana, existem claramente oportunidades de melhoria na forma como se trabalha. Sabemos que só conseguiremos esta alteração de paradigma acelerando nomeadamente e de forma muito rápida a transição digital, otimizando processos de modo a criar um impacto positivo na performance das organizações e garantindo serviços mais eficazes durante quatro dias.
No Estudo “Estado da Nação” da Fundação José Neves (2022), ficamos também a saber que o mercado de trabalho se tornou mais exigente, aumentando a procura por competências digitais por parte dos empregadores. Em 2021, 63% das ofertas de emprego exigiam competências digitais o que reflete, comparativamente com outras profissões, uma relativa proteção das profissões com maior intensidade digital e associadas às tecnologias de informação e comunicação. Mais digitalização viabiliza menores custos de pessoal e de funcionamento. Haverá sectores com maior flexibilidade onde esta transição já é possível, sobretudo em áreas tecnológicas em que a preocupação não recai no número de horas de trabalho, mas no cumprimento de objetivos. E se já trabalhamos mais horas do que a média europeia, aumentar a produtividade não passará seguramente por aumentar ainda mais este número de horas. A hipótese de uma sexta-feira livre permitiria uma outra vida pessoal, mais de acordo com as expetativas dos tempos que vivemos. Mas significaria também mais disponibilidade para desenvolver novas ideias e até para promover atitudes mais empreendedoras. Acredito que as contas do impacto na competitividade ainda não estejam feitas, mas seria seguramente um novo momento civilizacional.

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