Opinião: “Usar GPL a todo o gás”

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O custo com os combustíveis para os automóveis sempre foi uma das despesas com maior peso nas contas familiares. Face à redução nas deslocações motivada pelo confinamento pandémico, em maio de 2020 o preço médio do litro da gasolina e de gasóleo conheceu o seu valor mais baixo dos últimos anos – €1,32 e €1,12, respetivamente, segundo os dados da DGEG (Direção Geral da Energia e Geologia). Desde esta data que os preços destes combustíveis subiram tendencialmente até atingirem um valor médio de €1,96 e €1,79, segundo a mesma fonte. A subida de 49% e de 58% na gasolina e no gasóleo naturalmente complicou ainda mais a gestão dos orçamentos familiares.
Perante este cenário, os governantes decidiram baixar os ganhos com os impostos, nomeadamente o ISP (Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos), de forma a baixar a fatura para quem abastece a sua viatura. Esta medida caiu naturalmente bem na opinião pública, mas rapidamente se verificou que esta solução apenas atenuava o problema, não o resolvendo. Em complemento a uma medida de efeitos a curto prazo, como a do abaixamento do ISP, foi igualmente discutido um maior investimento nos transportes públicos. Esta é solução é bem-vinda porque não apenas reduz a necessidade de custear os combustíveis por quem precisa de se deslocar, como leva a uma diminuição das emissões gerais de gases de efeitos estufa. No entanto, é uma medida que não é transversal a todo o país porque, infelizmente, numa boa parte do país, os transportes públicos são inexistentes ou muito escassos.
Voltando às fontes de energia para os automóveis, alguns portugueses decidiram aproveitar os incentivos financeiros que o governo dava para a aquisição e abastecimento dos veículos elétricos. No entanto, assim que os carregamentos elétricos dos automóveis deixaram ter o apoio do estado, rapidamente se percebeu que esta também não era a melhor forma de reduzir a despesa com os automóveis. Para além disso, muitas vozes se insurgem quanto à mais valia ambiental desde veículos. Se é certo que a emissão direta de gases de efeito estufa são mais reduzidas, é igualmente verdade que o desenvolvimento destes equipamentos, e especificamente as baterias, tornam os veículos elétricos pouco “Amigos do Ambiente” – os opositores às explorações mineiras de lítio que o digam.
Assim, com o riscar das várias fontes de energia para os automóveis, sobra o GPL auto (Gás de Petróleo Liquefeito para automóveis). O GPL auto é um gás que resulta da refinação do petróleo e que apresenta um custo bastante inferior ao da gasolina ou do gasóleo – atualmente o preço do litro de GPL auto é de cerca de €0,94. Sendo um gás, e, portanto, com melhor capacidade de mistura com o ar, a combustão do GPL é muito mais eficiente e menos poluidora do que acontece num veículo movido a gasolina ou gasóleo – aproximadamente, emite menos 85% de gases de efeitos estufa, apresentando reduções equiparáveis face à emissão de outros poluentes (e.g., óxidos de azoto). Para além disso, a utilização do GPL auto preserva mais o motor dos automóveis do que os restantes combustíveis, sobretudo por reduzir os depósitos na câmara de combustão, nas válvulas e nas velas. Resulta ainda de que normalmente, os carros a GPL são bi-fueis, ou seja, poderão funcionar a gasolina ou gasóleo se o GPL terminar no depósito do veículo – o que não acontece nos veículos elétricos. Os velhos inconvenientes da perda de potência do motor ou as limitações da proibição de estacionamento em garagens subterrâneas deixaram de existir para os veículos com as tecnologias mais recentes (~desde 2013 ).
Sendo um utilizador deste combustível desde há vários anos, e assim conhecendo os seus benefícios em primeira mão, confesso não perceber porque o GPL auto tem uma tão fraca, embora crescente, adesão em Portugal. Por exemplo, na Holanda o número de veículos a GPL é cerca de 20 vezes superior ao registado no nosso país. Estranho ainda mais a ausência de benefícios governamentais para os carros a GPL auto. Se é certo que os impostos sobre este combustível são inferiores aos da gasolina ou gasóleo, face às suas menores emissões de poluentes, pergunto-me porque os incentivos para a conversão ou compra de carros a GPL não se equiparam àqueles dados para os veículos elétricos. Porque não há desconto ao nível do IUC (imposto único de circulação) ou mesmo nas portagens quando os benefícios ambientais dos veículos a GPL auto são maiores. Porque não obrigar as novas gasolineiras a ter abastecimento de GPL auto motivando a adesão a este tipo de combustível por parte dos cidadãos. Porque as notícias ou mesmo os placares das autoestradas com informação dos preços dos combustíveis não incluem qualquer referência ao GPL auto? Porque não há uma efetiva campanha de disseminação das vantagens deste combustível?
Enfim, resta-me dizer aos leitores que, por experiência própria, confirmo que os carros a GPL auto são muito vantajosos relativamente aos outros veículos, quer em termos ambientais (e não apenas na emissão de gases de efeito estufa), quer em termos económicos. Considerando um custo de €1500 para a conversão de um carro a gasolina para bi-fuel (GPL auto e gasolina), e analisando os gastos de consumo que tenho feito numa deslocação anual média de 30 mil quilómetros, determinei um período de retorno de investimento claramente inferior a um ano. Penso que vale a pena!
N.A. – Excluí desta análise as vantagens dos veículos híbridos por não ter experiência na sua utilização. Refiro, no entanto, que a sua aquisição é mais custosa e que os consumos energéticos são menores, quando comparados com os veículos a gasolina ou a gasóleo.

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