Opinião: “O domínio da água”

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Se observarmos os acessos à água temos o canal de Suez entre o Mediterrâneo e o mar vermelho inaugurado em 1869. Temos também entre o Pacífico e o Atlântico o canal do Panamá inaugurado em 1914. Além destes, outro canal artificial é na Alemanha, o Kiel entre o mar do norte e o mar Báltico. Mas há vários, como ensina hoje o Google. Googlar enquanto se conversa é uma prática comum, como é shazar enquanto soam canções que nos agradam. As conversas passam a ter um instrumento de verificação, de normalização. Há o problema dos saberes que se constroem de experiência, de repetição e de conhecimento verificado, testado. Os jovens falam constantemente com o telefone e reduziram a importância do saber livresco, da leitura sem filtro, impossível nas aplicações. O domínio da água é discutido desse modo também, percorrendo conferências passadas e acessíveis na internet, recolhendo PDFs que já estão à espera de ser lidos. A água é um bem discutível, uma fonte de cura de doenças, um mecanismo de transporte de fármacos para a saúde pública, um meio de transporte, um espaço de discussão para a dicotomia público e privado. A água está no centro da luta contra a poluição, no centro do combate pela sustentabilidade do planeta, no centro da defesa dos direitos dos animais e da luta contra o fim das espécies. A água pode ser construída, dessalinizada, adulterada, acrescentada, solidificada, vaporizada, roubada.
Enquanto falo vou teclando a pesquisar se digo algum disparate. Aprendi nos livros e revistas, mas hoje conta mais o que se repete em blogues e conferências da TED ou dissertações online.
O que é a água, como participa na fotossíntese nos mares e na terra, como contribuiu para reduzir o bócio e a cárie, como está no centro de conflitos particulares e internacionais. Os rios transportadores de lixo da India e de vários países da Ásia e África. Os ilhéus de lixo que vagueiam no mar. O plástico que se apoderou dos mares e dos peixes e dos mamíferos que por lá insistem em viver ainda. O mundo da tecnologia tem de participar na transformação pois é mais fácil criar um mecanismo que mude os hábitos do que tentar alterações dos pensamentos.
As torneiras devem incorporar mecanismos com vista a reduzir os consumos, as piscinas devem ser repensadas na sua forma e relação com a natureza, as aplicações devem sinalizar comportamentos como aqueles ecrãs que dizem quanto tempo estivemos a olhar para ele esta semana. “Forcing function” é uma ideia de tecnologia “empurradora de hábitos” para nos fazer mudar de caminho mesmo sem militância, sem educação ou formação. Fazes porque o vídeo das câmaras de rua te identifica, o telemóvel te pode filmar, os vizinhos te denunciam. A política da China contemporânea vai neste sentido, uma ditadura dos sistemas sobre os comportamentos, e obtendo o controlo das opções para o comportamento, tem o máximo do poder. A política da água e a tecnologia vão ter de estar associadas para o combate à poluição e ao desperdício. Já o armazenamento, as políticas de distribuição e partilha envolverão estados beligerantes. Em tudo isto cresce sempre o domínio das populações pelas tecnologias de observação e indução pelo medo. A água não foge a nada disto.

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