Foi empossado recentemente o XXIII Governo de Portugal. Ao ter conhecimento da proposta de Governo pela comunicação social, o Exmo. Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se irritado, aproveitando prontamente a oportunidade para se fazer notar e deixando claramente transparecer a necessidade de que está conhecedor que terá que lutar para que a sua figura não desapareça num quadro político que lhe retirou quase totalmente a sua preponderância. Mas não é sobre isso que pretendo falar. Pretendo sim falar de experiência, de mérito, de exemplo e do quanto considero importante serem estas as bases de quem nos lidera para que, enquanto país, possamos traçar o nosso caminho de aproximação a uma Europa onde temos verdadeiramente que pertencer.
O nosso primeiro ministro apresentou a lista dos seus 17 ministros e descreveu este novo governo como um “Governo de combate, mais conciso, que tem forte núcleo político, com participação de pessoas muito relevantes com experiência na sociedade portuguesa”. Concordo com ele, mas apenas no que diz respeito ao “forte núcleo político”. Quanto à “participação de pessoas muito relevantes com experiência na sociedade portuguesa”, diria mais que quanto muito serão pessoas muito relevantes e com experiência no partido socialista.
Ninguém nasce ministro, tal como ninguém nasce empresário ou qualquer outra profissão. Todos nós, independentemente das nossas funções, somos profissionais em constante aprendizagem e evolução. E oportunidades todos merecem. Ainda assim, e como incondicional adepto do culto do exemplo e do mérito, entendo que é fundamental que funções de liderança estejam nas mãos de pessoas que, de forma inequívoca, sejam para além de académica e politicamente (neste caso) aptos, consigam ser também profissionalmente capacitados e acima de tudo exemplares. Exemplares na transmissão de experiências para a nossa sociedade, para que a consigam contaminar positivamente. Permitam-me a ousadia, mas não me parece que estejamos perante uma governação que o consiga fazer.
Dos 17 ministros recém-empossados, há 14 aos quais não são conhecidas quaisquer funções até à presente data no que a trabalho no sector privado diz respeito. Não que desconsidere uma carreira profissional que seja feita integralmente no sector privado, mas considero que há ministérios onde a gestão estar a cargo de pessoas com um completo vazio de experiência no “normal mercado de trabalho” é quase imoral. Saberá verdadeiramente um ministro o que custa criar um emprego se nunca teve que o fazer? Ou definir um esquema fiscal justo e capaz de promover o crescimento económico se nunca teve a preocupação de pagar impostos? Cumprir e fazer cumprir a tempo e horas com obrigações sem nunca ter tido a necessidade de o fazer? Lamento, mas não vejo como. Mais caricato ainda me parece o facto de, aquando a negociação do PRR, a nossa governação ter sentido a necessidade de contratar alguém da sociedade civil para o estruturar. Até aqui, mesmo achando estranho (por me parecer à data um passar de atestado de incompetência aos diversos ministérios envolvidos), até poderia aceitar. Mas no momento em que é apresentado o novo governo, constatarmos que quem “criou” o PRR assume a pasta da Economia (até aqui tudo muito lógico) e que o PRR passa para o domínio do ministério da presidência é, a meu ver, incompreensível. Alguém saberá certamente o porquê de tal decisão. Espero que a ministra Mariana Vieira da Silva tenha fortalecido a sua formação em sociologia com uns quantos manuais de economia, isto para que não corramos o risco de falhar o alvo ao disparar a tão apregoada bazuca.
Aquando da intervenção da Troika, com o desemprego em níveis muito elevados, o sector privado procurava profissionais licenciados, mestrados ou doutorados a saber falar fluentemente 10 ou mais línguas, com 20 ou mais anos de experiência e com menos de 30 anos de idade a troco de 600€ (permitam-me alguma ironia). Tendo em conta o que vejo neste governo, ou a exigência é por aqui muito menor ou com o aumento da empregabilidade a mão de obra disponível é claramente inferior.
Como nem tudo é mau, felizmente há algumas excepções neste novo governo (pessoas a quem reconheço todo o mérito e capacidade para o exercício destas funções), mas como só da exigência poderá vir o resultado, digo-vos honestamente que esperava mais e melhor. Mais exemplo, melhor exemplo!
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