Educa-se alguém a ser livre em cativeiro?

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É difícil adivinhar-lhe um sorriso, sobretudo quando recorda o caminho que o levou até ali. Em 43 anos, já leva mais de 20 reclusão. Metade do que viveu.

“A minha primeira condenação foi aos 19 anos”, conta Rui, recluso no Estabelecimento Prisional de Coimbra. “Cumpri seis anos. Depois nove. Agora estou a cumprir 10”. Sempre pelo mesmo crime: tráfico de droga.

A vida ali dentro pesa, mas a incerteza do que o espera quando terminar a pena pesa muito mais.

“O que é que eu vou encontrar quando sair com 47 anos? Eu aqui não consumo. Venho trabalhar todos os dias. Lá fora não consigo. Porque é que eu não consigo?”, questiona.

Foi já na prisão que Rui aprendeu o ofício de dourador e encadernador, profissão que acabaria por exercer num dos períodos em que esteve em liberdade. Até falhar de novo. Agora é ele que dá formação aos outros reclusos.

O sorriso apenas se abre quando, numa pequena sala, mostra armários cheios de chifras, aperta-nervos, furadores, ferros de gravação e douradores com diferentes formas artísticas.

“Isto foi tudo adquirido ao longo de muitos anos – algumas são tão (ou mais) antigas do que os 120 anos do Estabelecimento Prisional. É uma relíquia”, diz.

Numa outra sala, mais ampla e cheia de luz, quatro homens trabalham entre as pilhas de livros, obras desfeitas e páginas soltas. A um canto, António Monteiro passa a ferro as folhas amarelecidas de um “livro de leis” do século XIV. Quem o observa, tão concentrado e cheio de cuidados, mal imagina que sempre trabalhou na área da construção civil. Em 2018 (depois de já ter passado pela construção e pela oficia de marcenaria no EPC) experimentou a oficina de encadernação e restauro e ganhou gosto pelos livros.

“Gosto de ver como eram feitos, como eram trabalhados. Esta tarefa que exige concentração e paciência, mas gostava de continuar a fazer isto quando saísse”, diz. Faltam ainda três anos, dos 21 a que foi condenado.
O Estabelecimento Prisional de Coimbra mantém em funcionamento ininterrupto uma zona oficinal construída em 1915.
Naquele edifício labiríntico de três andares funcionam várias oficinas: serralharia, encadernação, sapataria, alfaiataria, estofaria, mecânica, trabalhos de madeira, como produção de móveis, restauro e recuperação, portas, cadeiras, entre outros. É neste setor – onde funcionam a serração, a marcenaria, a carpintaria ou o empalhamento –, que Israel Rodrigues mostra com brio um móvel restaurado.

(Ler notícia completa na edição impressa do DIÁRIO AS BEIRAS em 20/04/2022)

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