“É prioritário reforçar a ligação com as empresas”

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Dois anos depois da eclosão, como avalia a resposta da comunidade FEUC aos desafios da crise pandémica?

A pandemia foi uma surpresa contundente, uma experiência distópica que trouxe um conjunto de problemas inéditos e de perturbações à vida académica em geral. Penso, fundamentalmente, nos estudantes que tiveram a experiência ingrata de viver boa parte do seu percurso académico neste contexto de sérias contrições. Mais do que a pandemia em si mesma, ficaram problemas sociais e económicos que perduram e houve um nítido agravamento das desigualdades, problema estrutural do nosso país, que a guerra virá certamente agravar, associada à inflação que há muito não conhecíamos.

Sendo uma Faculdade muito coesa e organizada, onde se trabalha para servir os estudantes e garantir a qualidade do ensino, a FEUC respondeu muito bem às circunstâncias da pandemia. Em primeiro lugar, beneficiámos da boa gestão que a UC fez da crise pandémica e dos respetivos efeitos, que exigiu medidas centralizadas de dimensão inédita e ajustadas permanentemente. Em segundo lugar, beneficiámos de uma excelente e admirável cooperação dos docentes e dos estudantes, além do trabalho de retaguarda dos serviços. Devo salientar a tolerância e sentido de compreensão que, em especial, os núcleos de estudantes manifestaram durante esses meses intermináveis de anormalidade académica. De forma reativa, mas muito capaz, fizemos ensino remoto de emergência e adaptámos metodologias e processos de trabalho. Esse rasto de inovações adaptativas veio desafiar os métodos estabelecidos e trazer para o primeiro plano da vida universitária as pedagogias e as didáticas de ensino.

O que está a FEUC a aproveitar do conjunto de inovações e de competências que a pandemia obrigou a adotar?

As adaptações que tivemos de fazer para podermos oferecer aulas à distância sem prejuízo do percurso dos estudantes exigiram um investimento forte em equipamentos que devemos continuar a utilizar.

Em primeiro lugar, abriu-se um debate importante — domínio em que a UC tem promovido iniciativas de grande mérito — sobre o conceito de inovação pedagógica e as suas práticas, o que é muito positivo. Na FEUC, onde sempre valorizámos as experiências inovadoras de ensino e a renovação didática, criámos uma Comissão para a Qualidade e Inovação Pedagógica no âmbito do Conselho Pedagógico, o lugar natural destes debates.

Depois, no âmbito da renovação da oferta de ensino que estamos a empreender em diversas áreas, começámos a ponderar em que cursos, e em que medida, devemos conjugar o modelo de ensino presencial com algumas formas de ensino remoto. Para isso, dispomos das plataformas de ensino criadas pela UC e dispomos de todo o equipamento que instalámos nas salas de aula e anfiteatros, um esforço inédito de apetrechamento audiovisual que nos habilita a oferecer cursos de pós-graduação e iniciativas de formação em formato híbrido, com a flexibilidade que hoje se espera.

A pandemia trouxe uma reconfiguração dos padrões da procura de ensino cuja competitividade se vai decidir, cada vez mais, no plano das competências digitais e na flexibilidade da oferta. Estamos a trabalhar para isso, mas devemos lembrar que os cursos que temos acreditados são de ensino presencial.

Em que medida foi afetado o processo de internacionalização da faculdade?

A FEUC tem dinâmicas de internacionalização muito fortes e muito consolidadas. Essa é uma das nossas marcas distintivas, quer nas redes de investigação, quer no ensino e mobilidade de estudantes. Importa lembrar que, durante os últimos quatro anos letivos (dois deles pouco favoráveis devido à pandemia) tivemos estudantes de 54 nacionalidades diferentes. Mais de um quarto dos nossos 2700 estudantes (27% no presente ano letivo) são estudantes estrangeiros, o que confere à Faculdade um ambiente multicultural muito interessante. Devido a esta realidade consolidada, as dinâmicas de internacionalização não se ressentiram muito. Tivemos quebras na mobilidade de estudantes, naturalmente, mas no presente ano letivo já recuperámos os melhores números. A curto prazo, vamos ampliar protocolos com Universidades estrangeiras e trabalhar com a Divisão de Relações Internacionais, como temos feito, para alargar redes de cooperação e abrir outras frentes de internacionalização. No presente ano letivo temos outra vez mais de 200 estudantes em mobilidade, números muito bons. Devo lembrar, também, que o escritório de Coimbra da AEISEC está sediado na FEUC. Temos apoiado esta organização o melhor que podemos porque o trabalho que fazem é muito bom e beneficia a experiência académica e profissional de muitos estudantes, não só da FEUC, mas da UC em geral. Na FEUC, a mobilidade de docentes também é expressiva e vamos reativar o programa Visiting Scholar.

Em fevereiro de 2020, quando tomou posse pela primeira vez, destacou a intenção de aumentar a interação com o meio empresarial da região e do País. Em que ponto está este dossiê?

Este objetivo estratégico de gestão está em plena concretização e traduz-se em diversas frentes. Numa Faculdade multidisciplinar como a nossa, onde 60% dos estudantes são alunos das áreas de Economia e Gestão, é prioritário reforçar a ligação com as empresas e fazer mais e melhor pelo percurso profissional dos nossos estudantes. Esse esforço é importante para todos, independentemente das áreas em apreço. Durante estes dois anos de gestão, aumentámos significativamente o número de estágios curriculares realizados em contexto empresarial e em organizações do terceiro setor. A designada “Rede Parceiros FEUC” cresceu 30% e o número de estágios encontra-se em crescimento rápido mercê do empenho que a Direção da Escola e os Serviços têm colocado neste dossiê.

Mas essa é apenas uma das frentes de um trabalho mais amplo, que implica reforçar a inclusão de estudos de caso e de parcerias de análise no próprio contexto curricular, isto é, nos planos de estudo dos cursos. Uma das novidades do próximo mandato incide precisamente nesta área: vamos ter uma docente coordenadora, altamente especializada e competente, a trabalhar na área das empresas, estágios e empregabilidade. Essas dinâmicas vão crescer de forma mais sustentada e, além disso, estamos a aprofundar a dimensão das competências transversais nos novos planos de estudo das áreas de Economia e Gestão, que ficarão alinhados com as escolas de referência internacionais. Acabámos de criar, também, um curso muito interessante e que dirige a jovens estudantes e a pessoas que estão nas empresas: uma pós-graduação em Marketing Digital, cujas inscrições estão abertas. Tudo isso, direta e indiretamente, nos aproxima das empresas, do território e da sociedade.

Referiu também o “esforço persistente de renovação de imagem”. O que já se fez e o que pode ainda ser melhorado?

Os esforços de renovação de imagem só são efetivos se o discurso em que insiste for coerente com a realidade. Renovámos os principais processos de comunicação institucional, somos coerentes e assertivos na forma como comunicamos objetivos estratégicos e como exemplificamos esse posicionamento com iniciativas concretas. Acresce a maior presença que temos na imprensa da cidade e na região, na imprensa económica e nas redes sociais, com incursões crescentes nos media nacionais. Além disso, dotámos os principais cursos e níveis de ensino com comunicação audiovisual, nomeadamente com apoio do Núcleo de Marketing da UC, e reforçámos as iniciativas de marketing junto do público pré-universitário e de outros públicos. O programa dos 50 anos da FEUC vai assumir formas de comunicação e de mediação inovadoras de forma a exprimir os principais contributos que a Escola tem a dar à sociedade, quer em termos de ciência, quer em termos de ensino e de pensamento crítico. Devemos reforçar o enlace com o território e estabelecer interações mais variadas com a cidade. E podemos melhorar a comunicação de ciência de forma a ampliar a pegada da investigação que fazemos.

DR

Neste meio século, a FEUC debateu-se sempre com problemas de espaço. O novo edifício vai resolver o problema? Qual o calendário previsto para a sua concretização?

Os problemas de espaço da FEUC são recentes e relacionam-se com o crescimento do ensino pós-graduado que tivemos nos anos “pós-Bolonha”. Neste momento, referindo-me à média dos últimos cinco anos letivos, 43% dos nossos estudantes são alunos de cursos pós-graduados (mestrados, doutoramentos e cursos não conferentes de grau). Esta é uma realidade pujante, mas recente, que queremos consolidar sem jamais descurar as quatro licenciaturas que temos, que são o lastro da Escola e cujo numerus clausus deve crescer, na medida do possível, porque temos procura para isso.

O edifício a construir no terreno que recentemente adquirimos ainda não tem projeto, mas já definimos a sua funcionalidade. Juntamente com as diversas obras que negociámos com a Reitoria e que estamos a concretizar (sala polivalente, renovação do bloco de investigação, renovação do bloco de ensino e instalação do CeBER no edifício principal do Geofísico), a Faculdade pode projetar os próximos 50 anos. É esse o nosso projeto de gestão e sustentabilidade da Escola, juntamente com as reformas dos cursos.

Nos últimos anos, destacou-se a dinâmica do Centro de Estudos Sociais, hoje uma referência internacional na investigação em Sociologia. Como e em que direção(ões) pode ainda crescer o CES?

A FEUC tem com o CES uma relação fundacional e estimamos muito essa cooperação, que é excelente. No entanto, devo lembrar que o CES é um laboratório associado e tem toda a autonomia e órgãos próprios.

Temos mais de uma dezena de cursos de doutoramento em parceria que contribuem muito para um espaço comum de ensino e investigação na área abrangente das ciências sociais. Como refere, o CES é uma referência internacional — não apenas europeia, mas global — na área das ciências sociais. Podemos dizer que é uma multinacional da investigação e do pensamento crítico, com vastas e amplas articulações com os movimentos sociais. A investigação e o ensino da Sociologia e de outras áreas das ciências sociais, nomeadamente os doutoramentos que laboram numa lógica transdisciplinar, serão tanto mais fortes na FEUC quanto aprofundarem as suas sinergias com o CES. Também por isso, apoiamos com entusiasmo a “Cátedra Boaventura Sousa Santos”, sediada na FEUC, que é um espaço académico verdadeiramente global, por onde têm passado grandes figuras intelectuais e dos movimentos sociais que mobilizam conhecimento crítico e pós-colonial.

Há dois anos, falou em aprofundar a competitividade nacional e internacional das áreas de Economia e Gestão. O que já foi conseguido?

O ensino e investigação nas áreas científicas de Economia e Gestão é, seguramente, dos mais competitivos e onde mais impera a lógica dos rankings, que tende a criar perceções redutoras na procura dos cursos. Nesses alinhamentos performativos não estamos mal, mas queremos garantir que a FEUC se mantenha entre as melhores instituições do país. O papel do CeBER (Centre for Business and Economic Research), criado em 2016, tem sido fundamental para dar lastro científico aos cursos e para criar sinergias mais fortes entre as áreas de Economia e Gestão. Além disso, numa linha mais heterodoxa relativamente às conceções de Economia que hoje predominam, temos um excelente doutoramento em Economia Política em parceria com o ISCTE e o ISEG, cuja procura é elevadíssima e estabelece ligações fortes com as ciências sociais.

Em 2022 teremos prontos os novos planos de estudos das Licenciaturas de Economia e Gestão e dos respetivos mestrados generalistas. Esta reforma é muito ousada e vai acrescer a qualidade e competitividade dos nossos cursos nestas áreas – que significam, no seu conjunto, 1500 alunos —, em especial porque inclui a acreditação internacional dos cursos, patamar de qualidade e reconhecimento onde estão as melhores escolas. Acresce, também, a acreditação internacional do MBA Executivos, cuja dinâmica tem sido excelente, e que está praticamente concluída.

O que releva da participação da comunidade estudantil na vida da FEUC? Está a faculdade a conseguir mobilizar os antigos estudantes para a consolidação do seu projeto?

A estratégia que trouxe à direção da Faculdade quase exigia a existência de uma Associação de Antigos Estudantes. Foi uma decisão importante e o processo correu muito bem porque apareceram pessoas generosas para concorrer a eleições e compor os órgãos sociais. A partir daí, a Associação ganhou vida própria, como deve ser, e tem assumido uma dinâmica muito interessante. De forma sóbria, a Associação tem desenvolvido uma série de iniciativas orientadas para a mediação entre gerações estudantis, competências profissionais, empregabilidade e inovação. Há uma convergência natural e muito importante entre as dinâmicas da Associação e o que queremos para a Faculdade. Naturalmente, todo esta ambiente integrado garante melhor futuro à FEUC.

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