Que grandes desafios tem a ESTeSC para o próximo biénio?
Estamos com pouco mais de um mês de tomada de posse, foi no dia 13 de dezembro, e, nas organizações, os processos de mudança são importantes porque, de alguma forma, trazem uma nova vida.
De acordo com aquilo que já tínhamos identificado no manifesto eleitoral que apresentamos, o maior desafio que temos pela frente, na escola, para o próximo biénio, é a reorganização interna dos serviços.
E, pela primeira vez, em vez de impormos uma reorganização de serviços com uma metodologia top down, ela vai ser feita numa abordagem bottom-up. Os técnicos superiores desta casa têm um prazo, até junho de 2022, para definirem – porque conhecem bem a realidade da escola – que serviços é que deve a escola ter, obviamente em observância dos seus estatutos, como é que os mesmos devem funcionar, qual é a tipologia de recursos humanos que cada um destes serviços deve ter, e quantos recursos humanos são necessários e a sua tipologia em termos de categoria.
Quando poderá estar concluída esta reorganização de serviços?
Este trabalho vai ser desenvolvido até junho, depois será elaborado um documento estratégico, que será colocado em discussão pública, primeiro no âmbito do Conselho de Escola, que é o órgão máximo da instituição – tem a responsabilidade de eleger o presidente e aprovar o seu plano estratégico e de atividades –, e serão feitas as adaptações que se considerarem necessárias.
Depois haverá uma consulta pública a toda a comunidade, docente, não docente e discente, no sentido de darem contributos para esse novo regulamento e funcionamento dos serviços.
Depois desse passo, espero estar em condições de ter este modelo aprovado até junho, para que possa entrar em funcionamento a partir do primeiro dia de setembro, no regresso de férias.
Teremos este período pré-férias e pré-início do ano letivo para reorganizar os serviços, reorganizar as pessoas e fazer aquilo que foi o meu compromisso, que é, estando isto assumido pela comunidade, será para levar a efeito até final do mandato.
Neste contexto da escola, todo esse projeto de reorganização dos serviços é um desafio necessário na dinâmica da ESTeSC?
Não só necessário, mas fundamental. Os serviços são a espinha dorsal de uma instituição, estes serviços, alguns mais do que outros, são o rosto e a marca da instituição para o nosso cliente, e o nosso cliente principal são os alunos – quer seja a formação de 1.º ciclo, de 2.º ciclo, quer seja formação avançada, pós-graduações. Portanto, não adianta de nada termos um curso e um corpo docente de elevada qualidade, se depois o interface entre a escola, o curso e os nossos clientes (os alunos) não funcionar de forma adequada. E isso tem a ver muito com a forma de atendimento, de comunicação, com a celeridade dos processos. Por isso quisemos pôr as pessoas que têm a responsabilidade de gerir esse serviço a apresentar uma solução para como ele deve funcionar. E estou esperançado, porque acho que os recursos humanos desta escola são fantásticos, nomeadamente os recursos humanos não docentes. Estou convencido que vão apresentar uma boa proposta.
A escola terá outros desafios na primeira parte do mandato?
Há coisas que são de extrema importância, como dar uma nova dinâmica à escola, naquilo que é sua envolvência e implantação no território, no cumprimento da sua missão.
Um deles já o fizemos, num prazo recorde, que foi a abertura do Centro de Testagem à Covid-19, em estreita articulação com o Instituto Politécnico de Coimbra, com a Administração Regional de Saúde do Centro e com a União de Freguesias de São Martinho e Ribeira de Frades. É algo que nos orgulha imenso, termos assinado este protocolo. A forma como a escola se implanta na comunidade é para nós importante, tal como fazermos aquilo que também está no manifesto eleitoral, que é reabrir o portão de entrada da escola à comunidade, trazer as pessoas à escola, colocar a escola lá fora e dar-lhe visibilidade, para poder crescer.
Vamos reorganizar tudo o que tem a ver com o modelo de comunicação da escola, sobretudo a comunicação interna, porque a escola tem muitas atividades que passam ao lado da comunidade, e isso não deve acontecer. Nós queremos envolver a comunidade, quer interna, quer externa.
A intenção é envolver a comunidade escolar?
A envolvência dos órgãos numa estratégia alinhada com a presidência da escola é para nós importante, quer o Conselho de Escola – órgão máximo da escola –, mas sobretudo o Conselho Técnico-Científico, o Conselho Pedagógico e as unidades que estão previstas nos estatutos – Unidade de Formação Avançada, Unidade de Investigação Aplicada e a Unidade de Prestação de Serviços. Estes primeiros dois anos vão ser claramente difíceis, sobretudo desafiantes, no sentido de colocar a comunidade e estes órgãos todos a trabalhar e a cooperar em conjunto.
Que dificuldades se preveem para concretizar esses desafios?
Neste momento, podemos dizer que as dificuldades para esses e quaisquer outros desafios é o SARS-Cov.2, que é quase um álibi. Mas tendo consciência que vamos continuar a viver com este vírus, as dificuldades serão sobretudo nós termos a capacidade, enquanto presidência, de congregar esforços e congregar pessoas. A parte mais difícil de uma organização é sempre motivar as pessoas, pô-las a trabalhar em conjunto e de forma feliz. E é essa a nossa missão e os nossos maiores desafios. Por isso, envolver os órgãos nas decisões estratégicas de gestão é para mim fundamental, estarmos todos alinhados com as decisões.
Claro que há outro álibi também importante: é que nós tecnicamente estamos em gestão corrente, com algumas dificuldades, porque sendo o orçamento de Estado o mesmo de 2021, podem existir outras despesas que foram assumidas e que começam agora a ser pagas, e não há verbas.
Qual é a imagem que o presidente da ESTeSC quer que a escola tenha na sua afirmação em Coimbra, no país e no mundo?
Eu poderia citar o Martin Luther King, e dizer “i have a dream”. Porque eu também tenho um sonho. Qualquer presidente de uma instituição gostaria de ter uma escola que seja reconhecida como uma escola de excelência por toda a gente, quer seja local, regional, nacional ou internacional. O problema é que uma coisa é dizer isto, e afirmar que somos uma escola de excelência; outra coisa é garantir àqueles que são nossos clientes, nossos stakeholders, com quem nos relacionamos, que efetivamente o somos. Portanto a imagem que gostaria que a comunidade, quer seja local, regional, nacional ou internacional, tivesse da escola, é que esta fosse uma escola de excelência e não parecesse uma escola de excelência. Esse vai ser o esforço que a minha presidência vai fazer, para afirmar a escola como uma escola de excelência.
Uma escola de ensino superior não pode ser reativa, tem que ser proativa, tem que antecipar o futuro. Como dizia Peter Drucker, a melhor forma de antecipar o futuro é prevê-lo. Assim, a nossa missão enquanto escola é prever o futuro, nestas áreas, que são extremamente sensíveis, e o que temos que garantir é que – os licenciados que a escola forma – em oito licenciaturas – são formados ao mais alto nível.
Como é que a escola se posiciona na relação com a universidade, em termos de ganhos e perdas?
A escola, enquanto ESTeSC, é demasiado pequena para se colocar ao nível da Universidade de Coimbra. Se trocar o ‘s’ pelo ‘c’ e falarmos de “univercidade”, de cidade, seria mais fácil a resposta. Coimbra precisa de uma estratégia integradora enquanto cidade de ensino. Disse na minha tomada de posse que fazia falta alguém – só que esse alguém falta sempre às reuniões – que consiga congregar e juntar as forças vivas da cidade: Politécnico de Coimbra, Universidade de Coimbra, Autarquias, Comunidade Intermunicipal… Enfim, as forças vivas deveriam ter uma estratégia global para a cidade e para a região.
E na área da saúde?
No que diz respeito ao caso concreto da área da saúde, não só com a Faculdade de Medicina, mas com a Faculdade de Farmácia, com a Escola Superior de enfermagem e com a nossa Escola Superior de Tecnologia da Saúde, Coimbra será provavelmente uma das cidades do mundo que tem as melhores condições para poder ter algo de valor acrescentado na área da saúde. Tem, em termos de prestação, do melhor que se faz a nível mundial, quer público, quer privado, tem ao nível da formação o melhor que se faz a nível mundial. No que diz respeito às nossas formações, nós somos referência mundial nas nossas áreas. Coimbra é uma cidade pequena, que tem estas formações de base, tem centros de investigação de topo, estamos envolvidos em redes europeias em vários níveis. Eu não veria essa questão da relação com a universidade, como ganhos e perdas, eu veria mais como ganhos, porque todos teremos a ganhar. Nós temos uma forte colaboração com a Universidade de Coimbra, e reconhecimento pela forma como cooperamos com as suas faculdades. Há professores da universidade que são nossos professores convidados. Por isso, tenho o sonho que haja alguém, o tal que falta sempre às reuniões, que consiga juntar as forças vivas da cidade e ciar algo de topo – e estou a falar na área da saúde. Dou-lhe um exemplo: no Minnesota, a cidade onde nasceu a clínica Mayo, que é referência mundial na área da saúde, é do tamanho de Coimbra e vive essencialmente para a área da saúde. Deixo este grito de alerta às forças vivas da cidade, para que deixem cada um de cultivar a sua horta, deitem abaixo os muros das suas hortas pequenas e congreguem aquilo que temos de tão bom e elevar a cidade a outro patamar, onde já esteve noutros tempos.
No contexto da escola, a investigação é um ponto forte?
A investigação científica no âmbito do ensino superior é um pilar essencial para o seu desenvolvimento. Não é possível desenvolver as profissões, nem o corpo de conhecimento das profissões, se não houver investigação. É por isso que um professor do ensino superior tem no máximo 12 horas letivas por semana, porque é expectável que nas restantes horas se dedique a fazer investigação. Hoje a investigação financiada, aquela que é competitiva, tem que se fazer de uma forma
Ampliar as instalações é “dos maiores desafios”
Como se carateriza a comunidade discente da ESTeSC, neste momento, e o que pretende atingir?
Só tenho uma palavra para descrever a comunidade discente da ESTeSC: é fantástica. Estamos a falar de alunos de uma entrega e de uma disponibilidade absoluta. Deixo uma mensagem de apreço aos alunos, porque eles são a alma desta instituição, pela sua envolvência nas atividades da escola. Aliás, a associação de estudantes tem sido o motor de revoluções que foram acontecendo no nosso ensino, contribuindo para que a ESTeSC, e as suas congéneres, estejam no nível que estão. Portanto, espero alunos inconformados, pois não serei um bom presidente se não tiver críticas de alunos, no sentido construtivo, até porque eles estão representados em vários órgãos.
A comunidade docente é suficiente para os desafios?
Em Portugal, os cursos, para funcionarem, têm que obedecer aos critérios definidos pela A3ES – Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, que define também o número de professores. Temos neste momento 60 docentes em regime de tempo integral, e cerca de 130 de professores convidados externos, oriundos das mais diversas áreas. A maioria são colegas do ambiente hospitalar e clínico, que são de uma importância extrema. Sendo cursos de tecnologias da saúde, a evolução tecnológica é exponencial e não seria aceitável que a escola, sendo pública, investisse milhões de euros na compra de equipamento que em meia dúzia de anos se torna obsoleto. Daí a importância desta ponte entre a academia e a prática clínica, para os nossos alunos poderem ter contacto com os novos desenvolvimentos em saúde. Esta escola não sobreviveria sem esta perfeita articulação e quero expressar o meu agradecimento a todas as unidades hospitalares da região e até do país. Porque, por exemplo, sempre que possível, tentamos que o aluno possa fazer o estágio numa unidade de saúde da localidade onde vive, ou próximo, mesmo no interior.
A ESTeSC precisa de mais professores?
Como estava referido no manifesto eleitoral, cerca de 40% do corpo docente próprio, ou seja, em regime de tempo integral, em 10 anos vai atingir a idade da reforma. Temos que encontrar formas de ir integrando jovens promessas da área das Tecnologias da Saúde, em doutoramento ou já doutoradas, para poderem ser contratados e depois estarem preparados para responder a um concurso público externo, para construir um corpo docente estável e garantir que o código genético da instituição se mantenha.
As instalações da escola são satisfatórias?
Não, de todo. Primeiro, são pequenas face à nossa comunidade educativa. Segundo, não têm tido a manutenção necessária e agora temos que fazer investimentos avultados para isso, até para as modernizar, do ponto de vista da eficiência energética, este edifício e o Polo Francisco Grade. Esse é provavelmente o maior desafio que temos, encontrar financiamento para resolver o problema das instalações.
Vamos tentar recuperar um projeto para construir um edifício no parque de estacionamento, mas para isso temos que alargar o estacionamento – que é caótico – para uma faixa de 20 metros em direção ao Hospital dos Covões, o que só será possível com o apoio do CHUC.
Outra hipótese para aumentar o espaço é com um terreno que é da Câmara. Há um local onde a rede da escola inflete em direção ao Polo Francisco Grade, e se nos deixassem colocar a rede direita nós conseguíamos fazer um polo adjacente a esse, mas precisamos do apoio câmara na cedência daquele terreno. Acredito que o Politécnico de Coimbra tudo fará para nos ajudar nesse crescimento, porque uma escola que tem esta procura, esta quantidade de alunos e que preenche as vagas todas, mas preenche mesmo, merece.
O crescimento passa por construir mais dois edifícios?
Sim, e com o projeto feito será mais fácil submeter uma candidatura para financiamento. Estes dois investimentos são estruturantes para a escola. As áreas científicas não mudaram, temos oito licenciaturas, mas a necessidade de desenvolvimento da área laboratorial vai aumentando, porque a tecnologia está a aumentar. Temos também que fazer um esforço para substituir algum equipamento que já está obsoleto.