Opinião: Do PET ao Iparque

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Há cerca de um mês (a 7 de Dezembro) a Universidade de Coimbra inaugurou, com a presença da Ministra Ana Abrunhosa, um equipamento PET (as iniciais da designação inglesa de Tomografia por Emissão de Positrões).
Há dias, foi noticiada a ampliação da área do Coimbra iParque – Parque de Ciência e Tecnologia. E também anunciada a construção de mais um bloco no Biocant Park – Parque Tecnológico de Cantanhede.
Aparentemente, estes três acontecimentos não têm qualquer relação entre si. Mas só aparentemente… Porque, de facto, há um nome que está, de forma directa ou indirecta, ligado a todos eles. O nome de um antigo estudante da Universidade de Coimbra, que viria a ser um dos mais reputados professores catedráticos da sua Faculdade de Medicina e que, infelizmente, já não está entre nós: Agostinho Almeida Santos.
De forma sucinta, vou tentar explicar essa ligação.
No final dos anos 90 do século passado, foi constituído um grupo informal para reflectir sobre Coimbra e a sua Região, que se autodenominou “Questão Coimbrã”. Este grupo (que não desapareceu, mas tem estado a “hibernar”…), composto por figuras destacadas das mais diversas áreas profissionais e ideológicas, seguindo os avisados conselhos de um dos seus membros, o Prof. José Veiga Simão, elegeu a Saúde como um dos sectores em que Coimbra deveria apostar para o seu desenvolvimento.
Agostinho Almeida Santos era um dos mais activos e entusiastas elementos deste grupo, tendo sido ele a propor que a “primeira bandeira a empunhar” seria conseguir trazer um PET para Coimbra. Tratava-se de um equipamento de ponta, que custava muito dinheiro (se a memória me não falha, um milhão de contos à época, o que representaria hoje muitos milhões de euros). Um equipamento que na época era disputado por muitos centros de Portugal e de Espanha – já que, diziam os especialistas, só se justificava existir um na Península Ibérica.
Outro dos objectivos era a concretização de um Parque Tecnológico que fosse pioneiro na área da Saúde e das Ciências da Vida.
Para se passar das palavras aos actos, criaram-se empresas, constitui-se uma Agência de Desenvolvimento Regional, lançaram-se prémios de investigação. Realizaram-se encontros com membros do Governo, promoveram-se reuniões, seminários e congressos, lançaram-se estudos internacionais, organizaram-se certames (de que destaco as edições da Expovita, onde se fez uma pioneira consulta de telemedicina entre Coimbra e Cabo Verde, com os Presidentes das duas Repúblicas a assistir). E Coimbra foi considerada nessa altura, em termos nacionais e internacionais, como a “Cidade da Saúde” – uma designação que ainda hoje é reconhecida por muitos.
À frente da maior parte destas acções esteve o Prof. Agostinho Almeida Santos, com um entusiasmo contagiante, uma insuperável capacidade de trabalho e de organização.
Como o IParque em Coimbra tardava a “arrancar”, procuraram-se alternativas na Região. O então Presidente da Câmara de Cantanhede, dr. Jorge Catarino, ouviu os mentores do projecto e logo se disponibilizou para oferecer terrenos e condições para ele avançar. Contudo, Agostinho Almeida Santos e os outros elementos entenderam que devia ser em Coimbra, apesar da lentidão do processo. Mas o autarca de Cantanhede, dando mostras de maior agilidade, logo agarrou a ideia e fez surgir o Biocant – que já se tornou num centro de biotecnologia de reputação internacional.
O Coimbra Iparque também acabaria por se concretizar, e aí está agora em plena expansão.
Quanto ao PET, eis que mais um vem agora para Coimbra, enriquecer o prestigiado ICNAS (Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde) da nossa prestigiada Universidade – e assim dando um contributo inestimável para combater doenças neurológicas, cardiovasculares e oncológicas.
Por tudo isto, parece-me de inteira justiça aqui lembrar Agostinho Almeida Santos – que faleceu em Julho de 2018, deixando-nos um notável legado e um exemplo de cidadania.
Espero que Coimbra saiba honrar a sua memória.

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