Calcula-se que no próximo dia 30 de Janeiro possam estar mais de um milhão de Portugueses confinados. Isso significa estarmos a falar de mais de 10% dos potenciais eleitores.
Muito se falou sobre o direito à vida e à saúde, versus o direito ao voto, numa perspectiva puramente jurídica mas muito pouco foi feito para acautelar este tipo de situações em tempo de pandemia.
Foi aconselhado o voto dos confinados no período entre as 18.00h e as 19.00h sem se pensar nas consequências de tentarem exercer o direito de voto um milhão de pessoas no espaço de uma hora…
Por outro lado, ficou por avaliar qual será a real repercussão que o receio de ser infectado por ir votar poderá desempenhar no resultado eleitoral…
Atempadamente, poderia ter sido usado o pretexto da pandemia para instalar o voto electrónico em Portugal, como forma de ultrapassar este e outros problemas.
Em 2021, numa altura em que a maioria da actividade bancária dos cidadãos é feita online, em que quase todos os registos médicos e a prescrição de receituário médico é feita online, em que a consulta dos processos judiciais por magistrados e advogados é feita online, em que quase todas as actividades diárias comerciais são susceptiveis de ser realizadas online, não se compreende a necessidade imperativa do voto presencial.
Mesmo partilhando da ideia de que a manutenção do anonimato e a preservação de mecanismos de segurança no momento do voto são indispensáveis, não se compreende como não foram encontradas soluções informáticas actuais para resolver este problema.
O problema não é exclusivamente Português, pois são alguns, mas ainda poucos, os países europeus que adoptaram a votação online, mas já diversos países mundiais o fazem há vários anos em segurança com bons resultados, e é a hora de colocar o voto electrónico como uma opção possível (não única) ao serviço dos cidadãos.
Os custos elevados de manutenção da estrutura eleitoral com milhares de mesas de voto, com milhares de portugueses convocados para estarem nas mesas, as toneladas de papel gasto para elaboração dos boletins de voto, a compra das urnas de voto e a reparação das existentes, as horas prolongadas de contagens de votos pela madrugada dentro, são imagens de um presente que já devia ser passado há muito tempo.
Não somos a favor da extinção imediata e total do voto presencial, pois a infoexclusão de portugueses de algumas gerações ou de algumas classes sociais não deve impedir ninguém de exercer o seu direito de voto, e deve, por isso, ser tida em conta, mas deveremos iniciar com cautelas mas sem receios a caminhada da transição para a votação electrónica.
Mas enquanto Portugal não dá o passo em frente na modernidade do acto eleitoral, terão os portugueses de se adaptar ao que existe nas circunstancias actuais.
Tenho a profunda convicção de que será seguro ir votar no próximo dia 30 e que o risco de infeção será muito inferior ao risco de ver ser eleito quem não se deseja simplesmente porque não se quis participar.
A vacinação veio para ficar e dar-nos índices de protecção perante doença grave e os números bem o comprovam. Avançámos para a vacina para nos proteger e para nos permitir manter as nossas actividades sociais, e o acto eleitoral é uma dessas actividades mais importantes.
A par da vacina, podemos fazer uso das recomendações que nos protegem do contágio como a utilização da máscara, a correcta higienização das mãos, a utilização da nossa caneta no momento do voto, e a manutenção do distanciamento social.
Apelo portanto a todos que não deixem de ir votar!
Mesmo os confinados. Mesmo os que pertencem a grupos de elevado risco. Todos!
Mesmo aqueles que votam nos partidos de forma clubística sem sequer conhecer os seus conteúdos programáticos, aqueles que se acomodam com o estado das coisas e têm sempre medo da mudança, ou aqueles que estão saturados da situação politica actual e anseiam por uma mudança de rumo.
O voto de cada um pode fazer a diferença. O voto de todos pode mudar Portugal.
Deixo o conselho aos que pertencem a grupos de risco para votarem logo de manhã.
Os portugueses não gostam de acordar cedo, muito menos ao domingo e por isso vão encontrar os locais de voto pouco concorridos, podendo ter uma maior sensação de segurança.
É triste perceber que há escolhas politicas que não ocorrem porque as pessoas estão desinteressadas da vida politica e não vão votar.
Mas mais triste e desolador é perceber que a abstenção teve como causa o medo, o medo injustificável de uma pandemia.
Não no esqueçamos de Nelson Mandela: “Coragem, não é ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente o medo, mas o que conquista esse medo.”
No dia 30 de Janeiro vamos todos votar.
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