Os últimos meses foram férteis em demonstrações sobre a importância da construção europeia para os cidadãos europeus. Infelizmente, pensa-se pouco no projeto europeu – atente-se nas taxas de abstenção para o PE – e tende-se a olhar apenas para “o copo meio vazio”. É injusto. É inadequado.
Primeira questão: teria havido vacinas para todos os países, sobretudo os menores, em tempo recorde, não fosse a capacidade negocial em bloco e a força financeiro-administrativa do executivo europeu? A resposta parece-me evidente. Não! E a importância para um país como Portugal – que depois soube implementar com mérito e eficácia a estratégia de vacinação – é indubitável em termos de saúde pública, mas também sociais e económicos.
Portanto, menos Europa significaria estarmos, hoje, ainda a negociar com os gigantes farmacêuticos o acesso a lotes, a preços substancialmente mais elevados e, consequentemente, com taxas de imunização bastante mais baixas.
Segunda questão: um país – seja o nosso ou qualquer outro – consegue fazer face isoladamente aos impactos da presente crise energética? Mais uma vez, não! A estratégia europeia para proteger os consumidores mais vulneráveis (com vouchers e créditos energéticos), assim como a aquisição conjunta de gás-natural por parte dos Estados-Membros para reforçar a reserva estratégica são passos fundamentais. Portanto, uma vez mais a força da coesão é fundamental.
Acresce, uma terceira questão – também ela na ordem do dia – associada à crise nas cadeias de abastecimento de “chips” e semicondutores, com todos os impactos negativos para as indústrias de tecnologia, automóvel e outras. Os países da UE produzem no total apenas 10% da oferta global destes componentes estratégicos. O objetivo agora é duplicar essa capacidade de forma a reduzir a dependência externa e assumir a soberania digital da União. Elemento chave num tempo em que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos digitalmente. Ora, aqui está mais um caso em que cada um por si não teria capacidade alguma (pela dimensão da empreitada) para fazer face aos atuais estrangulamentos.
Mas impõe-se uma derradeira questão: há ainda muito a melhorar na construção europeia? Sim, evidentemente. Mas faz-se estando ativamente dentro, com elevados níveis de participação cívica e com qualidade técnica. Nunca por nunca, fora e contra a Europa. Isso seria um desastre!