Opinião: Acabou o período de incêndios, agora que trabalhe a Natureza!

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No passado dia 30 de setembro terminou o chamado “período crítico” de incêndios florestais, que, em 2021, teve início a 1 de julho. Na verdade, gosto pouco deste termo porque nas atuais condições climatéricas que vivemos, qualquer período do ano pode ser crítico para os incêndios florestais. Por este motivo prefiro chamar “período mais crítico de incêndios florestais”.
Seja qual for o melhor termo a empregar, desde o dia 1 de outubro que muitas regras neste âmbito se tornaram menos exigentes e, com deste alívio regulamentar, surge muito trabalho que ficou atrasado durante o Verão. Um dos reflexos desta realidade é a existência de muitas pequenas colunas de fumos que ascendem das imensas fogueiras que se avistam nestes primeiros dias de outubro. Eu, que num passado distante já realizei queimas de amontoados de sobrantes, sei que este é um trabalho cansativo, moroso, aborrecido e, que, ainda por cima resulta apenas em fumo e cinzas, para além de uma grande mancha escura no chão. Para a saúde, pensando no fumo que inalamos, esta é uma atividade que não faz nada bem. Para o ambiente, tampouco, uma vez que estamos a devolver à atmosfera o dióxido de carbono, anteriormente retirado pelas plantas, contribuindo com mais uma gota no oceano para as alterações climáticas. Então, o que podemos fazer para nos livrarmos dos amontados de sobrantes? A resposta é simples, várias coisas, que não sejam queimar.
Uma das alternativas será a deposição deste material nos ecopontos florestais que algumas autarquias disponibilizam. Estes são locais especificamente concebidos para a deposição de resíduos agroflorestais por parte da população ou de pequenos empresários. Posteriormente, estes resíduos são recolhidos, normalmente por centros de valorização de biomassa que, a partir deles, produzem energia térmica e elétrica.
Outra possibilidade, e porque nem todas as autarquias disponibilizam ecopontos florestais, é a do aproveitamento local dos sobrantes agroflorestais. Este método consiste na compostagem concentrada destes resíduos e no mulching (espalhamento dos resíduos sobre o solo). A compostagem concentrada é muito interessante porque transforma de forma natural os resíduos num composto que pode enriquecer o solo. Este é um processo muito barato, que exige pouco trabalho, mas que pode demorar vários meses, embora possa tornar-se menos moroso se trituramos previamente os resíduos, se adicionarmos minhocas e/ou se, em certas fases, revolvermos os resíduos para promovermos o seu arejamento.
Se a solução da compostagem é fácil e barata, o espalhamento dos resíduos sobre o solo ainda é mais. Este é o meu método preferido, o qual já venho a usar desde há muito anos, pelo que passarei a falar dele na primeira pessoa. Basicamente, o que faço não é mais do que triturar previamente os resíduos maiores e juntá-los aos de menores dimensões (por exemplo, folhas) espalhando-os pela horta ou pelos canteiros de flores. No processo de trituração poderá usar-se um triturador mecânico ou um estilhaçador, se tivermos uma grande quantidade de resíduos, ou cortá-los com uma machadinha, uma vez que os pedaços resultantes deste processo não têm de ser muito pequenos. Depois, é só esperar que durante o Inverno este material apodreça, ficando tão mole que, na Primavera, antes das sementeiras, praticamente já se confunde com o solo. Desta forma, não apenas me desfaço dos resíduos, enriquecendo o solo química e biologicamente, como, e provavelmente o mais importante, crio uma camada superficial que protege a terra da geada. Para além disso, uma vez que os resíduos espalhados entram em compostagem natural, o solo começa a aquecer, facilitando o crescimento das culturas de Inverno. Uso igualmente este método nas restantes estações do ano, sempre com grandes vantagens – na Primavera/Verão, o espalhamento dos resíduos das podas permite-me não apenas evitar os inconvenientes da sua queima, como criar uma camada de manta morta que dificulta o crescimento de ervas infestantes e a desidratação do solo, fazendo com que tenha de mondar e regar menos vezes. Para além disso, esta técnica é imune aos impedimentos legais do período mais crítico de incêndios florestais.
Posto isto, resta uma pergunta – para quê queimar os sobrantes agroflorestais? A Natureza trabalhe, apodrecendo-os. Ela gosta!

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