Opinião: “Degradação da “direita”

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Na abertura da sua intervenção no debate do Estado da Nação, a deputada Catarina Martins do BE disse o seguinte dirigindo-se a António Costa (PM), depois de uma intervenção verdadeiramente confrangedora do líder de bancada do PSD, totalmente incapaz de mostrar uma alternativa ao Governo: “Eu julgo que nós não devíamos perder muito tempo a debater com a direita. Depois da vida demonstrar que a direita não tem projeto para nenhuma crise, a direita ainda não se encontrou. Diz uma coisa e o seu contrário, está em degradação e, portanto, nós no estado da nação temos é que debater soluções e por isso, por tentador que seja bater na direita, vamos às soluções e ao programa para o país”.
Por seu lado, o Presidente da República, numa intervenção para empresários, dizia no mesmo dia: “os protagonistas políticos, económicos e sociais defensores de um percurso diferente não têm logrado alcançar força persuasiva para que o seu discurso constitua um discurso alternativo e, sobretudo, constitua uma solução alternativa”.
Solicitou aos empresários que fossem “à luta” por “protagonistas políticos mais fortes” com capacidade de dar “mais eco” em momentos eleitorais e que constituir uma solução alternativa.
Ou seja, para o PR não há projeto político alternativo ao Governo, nem líderes capazes de o protagonizar.
As duas intervenções são certeiras. Não há um projeto alternativo na “direita” em Portugal e isso explica o crescimento de partidos populistas que crescem tendo por base mensagens de extrema-direita radical, que apontam “soluções” fáceis (e perigosas) para problemas do dia-a-dia.
Tudo isto é altamente preocupante, pois em política não há espaços vazios e a ausência de propostas, programas e protagonistas capazes, será facilmente substituída pelo discurso fácil que diz o que as pessoas reclamam à mesa dos cafés e deixam sair pela boca em momentos de descontração. A reflexão, a serenidade, a capacidade de olhar para os problemas e propor soluções alternativas é desmerecida em detrimento de um discurso populista, inconsequente e perigoso.
Ver a “direita” reformista, preocupada com o futuro do país a médio e longo-prazo reduzida à total ausência de preparação, debate, confronto de ideias, presa nas suas contradições e nada preocupada em construir soluções sustentáveis, é verdadeiramente confrangedor.
O que observo em Coimbra é verdadeiramente representativo. O PSD dilui-se numa coligação sem sentido. O que sobressai não é um propósito político, uma ideia, ou objetivos de desenvolvimento da cidade, mas uma só e desesperada necessidade de sobrevivência. A dignidade é algo que já há muito não se vislumbra num partido que foi poder em Coimbra e tem (será?) responsabilidades na cidade. Assistir a ações de campanha com o Tino de Rans, na Feira dos 23, em que ele afirma que quem faz os “programas é o povo” é um nível que nunca pensei que o PSD pudesse atingir. No conjunto, reflete uma cidade com uma baixíssima autoestima e amor-próprio.
Depois de tudo isto, é necessário refletir e desenhar caminhos alternativos. Não vejo isso a ser preparado, mas talvez seja necessário descer ainda mais baixo para que os partidos e as pessoas percebam que o método que seguimos, apostando em enganos e coisas mal amanhadas, não se adequa aos desafios que temos pela frente e não terá resultados diferentes seja qual for a opção eleitoral.

Pode ler a opinião de Norberto Pires na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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