Todos os dias em que ia para a Assembleia da República, motivava-me a ideia que atribuía a todos os eleitos, uma ideia sem a qual todas as outras desmoronam: a defesa da Democracia. Tive o privilégio de conviver e debater com democratas, ainda por cima em tempos difíceis, períodos conturbados que normalmente não são associados à prosperidade que deve brotar da Democracia.
Sucederam-se outros, com a crise financeira mundial e agora a pandemia, cujos efeitos sociais ainda mal se vislumbram. Urge termos mais democratas que racionalmente, e em uníssono, demonstrem à saciedade as virtudes da democracia, uma acção fundamental e sem a qual as consequências podem ser devastadoras.
De certeza que todos nos queixamos de algo. Mas das duas uma: ou todos os descontentamentos, que são cada vez em maior número, e que querem ser ouvidos, têm democratas a ouvi-los e a fazê-los acreditar na democracia, ou irão encontrar albergue noutros que de braços abertos os acolhem e até incentivam o aumento dos decibéis, como se gritar fosse ter razão, mas que com certeza apela à vinda de outros descontentes. É uma óbvia erosão democrática.
Infelizmente tenho assistido mais a jogos e joguinhos político-partidários, à mesa da conquista e manutenção do poder, às trocas “comerciais” de apoios, do que tempo dedicado à defesa da Democracia, enquanto único sistema capaz de garantir a minha dignidade. São temas como autonomia, liberdade de expressão, de imprensa, entre tantos outros, que nos deveriam, especialmente nestes tempos de crise, fazer-nos acreditar e aumentar a paixão democrática. Precisam-se urgentemente de democratas, de defensores da Democracia.