Opinião: Um (novo) setor público orientado por dados – 1

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O volume de dados criados, copiados e consumidos em todo o mundo será, em 2021 e segundo o portal Statista, 74 zetabytes (ZB) e, em 2024, 149 ZB, ou seja, duplicará em 3 anos. As unidades de medida seguintes serão yottabyte, brontobyte e geopbyte e outras que, possivelmente, ainda não estão sequer inventadas. Para este volume de informação, muito contribui a forma como usamos as aplicações e as possibilidades que estão ao nosso dispor. Os utilizadores, em especial os nativos digitais, estão por isso habituados a escolher o que pretendem, a aceitar recomendações baseadas no seu perfil, a classificar a qualidade do que viram ou experienciaram. Como se comporta o setor público quanto aos dados que, também aí, todos nós estamos a gerar?
Segundo o documento “A data-driven public sector”, publicado em final de 2019 pela OCDE, globalmente, “o uso dos dados não é ainda visto nem tido em conta como um meio fundamental para a criação de valor”. Todavia, novas medidas estão a caminho para contrariar essa visão: em 2020 foi lançada a Estratégia Europeia para os Dados, a qual prevê a criação de um mercado único para dados, o qual, mantendo todas as regras definidas na União Europeia, pretende promover a soberania dos dados e a competitividade no contexto europeu. Dados e abordagens orientadas aos dados serão considerados, cada vez mais, como recursos fundamentais para as empresas: para o seu crescimento, garantia de competitividade, inovação e progresso da sociedade e criação de emprego. Nos serviços públicos, espera-se que as estratégias baseadas nos dados contribuam também, cada vez mais, para a prestação de melhores serviços, mais orientados para as necessidades dos cidadãos, serviços com capacidade de antecipar as necessidades e prever a mudança, e, periodicamente, monitorizados para garantir que vão ao encontro das necessidades.
Há diversos aceleradores do desenvolvimento do setor público orientado aos dados, nomeadamente: a liderança e a visão orientadas aos dados – há novos perfis profissionais, tais como o CDO (Chief Digital Officer, Responsável pela transformação digital), novas políticas e incentivos, por exemplo, as que constam no Plano de Recuperação e Resiliência, onde se refere “a redução dos custos de contexto através de tecnologias digitais (…) [nomeadamente] eficiência interna via desmaterialização e automatização de procedimentos e partilha de dados e informação numa lógica de interoperabilidade” ou as políticas de dados abertos; a capacidade para a implementação, onde se destacam as task forces associadas aos dados, inovação e experimentação; e o ciclo de valor dos dados no setor público, que será objeto do próximo artigo.
O mundo VICA – Volátil, Incerto, Caótico e Ambíguo – tem muito a ganhar com a possibilidade de se tomar decisões com base em dados em tempo real. Para tal, o setor público tem de competir pelos melhores profissionais nas áreas de referência para a implementação dessas soluções e, tal como as empresas privadas, trabalhar em políticas de atração e retenção desses profissionais. Afinal, o desafio principal serão sempre as pessoas…

 

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